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Universidade Federal de Santa catarina (UFSC)
Programa de Pós-graduação em Engenharia, Gestão e Mídia do Conhecimento (PPGEGC)
Detalhes do Documento Analisado

Centro: Comunicação e Expressão

Departamento: Artes/ART

Dimensão Institucional: Pesquisa

Dimensão ODS: Econômica

Tipo do Documento: Projeto de Pesquisa

Título: FINNEGANS WAKE, DE JAMES JOYCE, PARA CRIANÇAS BRASILEIRAS

Coordenador
  • DIRCE WALTRICK DO AMARANTE
Participante
  • DIRCE WALTRICK DO AMARANTE (D)

Conteúdo

Não é a primeira vez que se tenta apresentar fi...não é a primeira vez que se tenta apresentar finnegans wake para crianças. em 2004, a editora lamparina (rio de janeiro) publicou finnício riovém, uma adaptação para o público infantojuvenil do romance joyciano, assinada pelo tradutor e escritor donaldo schüler, que motivou as reflexões sobre as relações entre a literatura para adultos e a literatura para crianças, sobre a qual também pretendo me deter. se finnegans wake é uma obra para adultos, sabe-se que ela se fundamentou, entre tantas outras obras, nos livros para crianças alice no país das maravilhas e através do espelho, de lewis carroll. não por acaso, the books at the wake (os livros do despertar), de james s. atherton, uma das mais importantes referências sobre as alusões literárias em finnegans wake, dedica um capítulo ao estudo da relação entre o último romance de joyce e a obra de carroll. segundo atherton, parte das inovações linguísticas e dos recursos estilísticos utilizados por joyce em finnegans wake é na verdade criação original de lewis carroll, ou provém de técnicas usadas por este, que o autor irlandês aproveitou e desenvolveu posteriormente, como, por exemplo, a palavra-valise, uma invenção de carroll, e o trocadilho, um importante procedimento também muito utilizado por ele para descrever o mundo onírico. quanto ao termo palavra-valise (portmanteau word), sabe-se que foi cunhado por lewis carroll no livro através do espelho. no sexto capítulo desse livro, o hermeneuta humpty dumpty explica que palavra-valise se constitui quando “dois significados” vêm “embrulhados numa palavra só.” em finnegans wake, a palavra-valise carrolliana tem, no entanto, um alcance ainda maior, uma vez que nesse romance joyce vai seguidamente “embrulhar” ou “empacotar” duas, três ou mais palavras numa só, utilizando, além disso, muitas vezes palavras de línguas diferentes (finnegans wake foi escrito em mais de 65 línguas). quanto ao trocadilho, trata-se de um jogo de palavras semelhantes no som, mas com significados diferentes; por isso, ao invés de elucidar, geram sentidos múltiplos. o escritor irlandês também vai lançar mão desse recurso estilístico. e, assim como ocorre na obra de carroll, os trocadilhos de joyce dividem a narrativa em dois textos, transformando simultaneamente uma ideia em outra. além das palavras-valise e dos trocadilhos, já mencionados, o escritor irlandês recorreu também a outros “truques verbais” criados por lewis carroll, como, por exemplo, a inversão das letras de uma palavra e a word ladder – escada de palavra –, que consiste, como explicou o próprio carroll, na união de duas palavras da mesma extensão, a partir da interposição de outras palavras, “cada uma diferindo da anterior apenas em uma letra”. afora esse diálogo no nível do vocabulário entre carroll e joyce, pode-se descobrir ainda outras analogias importantes entre as obras de ambos. martin gardner, estudioso da obra de carroll, chama a atenção, por exemplo, para o fato de sílvia e bruno e finnegans wake começarem no meio de uma sentença, que nunca se completa. muito embora a obra e o estilo de carroll ecoem por todo finnegans wake, certamente nenhuma criança se sentirá tentada a ler espontaneamente esse intrincado romance, ou encontrará nele alguma semelhança imediata com os livros de lewis carroll. do mesmo modo, dificilmente algum adulto ousará pensar não ser ele próprio, mas as crianças, o público-alvo do escritor irlandês. foi preciso esperar, assim, quase um século para que a obra para adultos de joyce retornasse a uma de suas origens: a literatura infantil, com donaldo schüler. na versão infantil de finnegans wake de donaldo schüler, ambientada mais no rio de janeiro do que em dublin (cidade onde transcorre o romance de joyce), as 628 páginas da narrativa original estão concentradas em 127, divididas em 21 capítulos, todos acrescidos de títulos. sabe-se que finnegans wake se estende por 17 capítulos, os quais sempre foram publicados sem título ou identificação numérica. não é também a primeira vez que se tenta reduzir o livro joyciano: em 1967, anthony burgess publicou, pela viking press, a shorter finnegans wake, uma versão condensada do livro, que o reduziu a um terço do original. seu objetivo era uma “[...] tentativa de levar uma grande obra-prima a um número maior de leitores [...]”. burgess sabia, no entanto, que essa “redução” era “dolorida e difícil”, já que “finnegans wake é um dos poucos livros no mundo que resiste completamente a ser cortado”. voltando à experiência de donaldo schüler, se quisermos resumir de forma bastante sucinta o enredo da narrativa de sua versão do wake, podemos dizer que se trata de um diálogo entre xem, xom e isolda (shem, shaun e issy, segundo o escritor irlandês), filhos dos protagonistas de finnegans wake, hce e anna livia. a partir dessa estrutura dialógica, a versão de donaldo recupera alguns dos mais importantes truques verbais de carroll e de joyce, como, por exemplo, as palavras-valise e os trocadilhos, citados acima. no tocante à palavra-valise, por exemplo, ela já aparece no título do livro: “finnício”, nome do “herói” da narrativa, significa “fim” e “início”, e “riovém”, seu sobrenome, conjuga o substantivo “rio” e o verbo “vir”. outras palavras-valise aparecem ao longo do texto, como, por exemplo: solpatos (que contém as palavras sapatos e sol), lavadoidas (que engloba as palavras lavadeiras doidas), showrava (que conjuga as palavras show e chorava), etc. em finnício riovém, porém, a referência à obra de carroll não se evidencia somente na linguagem. na página 28 do seu romance infantil, por exemplo, schüler faz uma referência direta ao escritor inglês. no que se refere ao aproveitamento da linguagem específica de finnegans wake, donaldo mantém de certo modo no seu livro a mescla de línguas existente no romance de joyce. em finnício riovém, duas línguas, a portuguesa e a espanhola, são as mais evidentes, mas encontramos também o inglês, o francês o italiano, etc. donaldo recria igualmente alguns dos famosos soundsenses (palavras formadas pela associação de inúmeras letras, cujo sentido é mais bem apreendido numa leitura em voz alta) de finnegans wake, como, por exemplo, o som do trovão, que dá início à narrativa joyciana. em finnício riovém, todavia, o estrondo do trovão aparece na metade do romance. também em finnício riovém o tradutor de joyce reaproveita fragmentos narrativos e recursos estilísticos de sua tradução de finnegans wake. desse modo, encontramos passagens comuns às duas “recriações” de schüler. embora concebido para crianças, finnício riovém conserva algumas passagens obscuras do romance de joyce, além de citações e alusões históricas, literárias e filosóficas. no tocante à narrativa, o livro de schüler reconta alguns dos mitos mais evidentes de finnegans wake (lembro que os mitos universais são outra fonte do romance). em finnegans wake, além dos mitos universais, também as fábulas foram recontadas por joyce ao longo do seu enredo circular. quanto às fábulas, o escritor irlandês subtrai em seu romance a moral do texto de esopo. donaldo, contudo, a recupera e a inclui em quase todos os seus capítulos de finnício riovém, na forma de um preceito moral. caberia concluir, por fim, que são muitas as semelhanças e as diferenças entre finnegans wake, de james joyce, e finnício riovém, de donaldo schüler. mas, conforme esclarece xem, personagem da versão de donaldo: “— eu não disse que quero modelo para fazer igual. quero modelo para fazer diferente”. a adaptação de donaldo me servirá também de guia, conforme mencionei acima, para que eu possa oferecer a minha própria versão do livro para os pequenos leitores. mas, devo aqui citar donaldo, quero “um modelo para fazer diferente”. devo destacar que minha pesquisa buscará apoio também numa bibliografia que desenvolva o conceito de criança, infância e literatura infantil e juvenil, como se poderá perceber na bibliografia ao final deste projeto de pesquisa. a propósito, tenho trabalhado há alguns anos com esses conceitos, tendo lecionado a disciplina “literatura infantojuvenil” por mais de três anos na universidade federal de santa catarina (ufsc) e tenho publicado livros sobre o tema como, por exemplo, as antenas do caracol: notas sobre literatura infanto-juvenil (2012) e pequena biblioteca para crianças (2013), ambos pela editora iluminuras (são paulo). além disso, pesquiso o nonsense literário, tendo traduzido livros de edward lear e lewis carroll.

Índice de Shannon: 3.94145

Índice de Gini: 0.931883

ODS 1 ODS 2 ODS 3 ODS 4 ODS 5 ODS 6 ODS 7 ODS 8 ODS 9 ODS 10 ODS 11 ODS 12 ODS 13 ODS 14 ODS 15 ODS 16
6,13% 5,66% 6,15% 7,77% 6,74% 4,31% 4,43% 11,78% 6,48% 4,38% 6,99% 4,54% 5,77% 5,12% 5,10% 8,66%
ODS Predominates
ODS 8
ODS 1

6,13%

ODS 2

5,66%

ODS 3

6,15%

ODS 4

7,77%

ODS 5

6,74%

ODS 6

4,31%

ODS 7

4,43%

ODS 8

11,78%

ODS 9

6,48%

ODS 10

4,38%

ODS 11

6,99%

ODS 12

4,54%

ODS 13

5,77%

ODS 14

5,12%

ODS 15

5,10%

ODS 16

8,66%