A presente tese busca compreender como se dá a educação das relações étnicoraciais (erer) no âmbito da formação de professoras/es de ciências biológicas da universidade federal de santa catarina, uma vez que acreditamos que a erer (re)conhece da história e da cultura negra e indígena, e, portanto, a efetiva participação desses povos na construção da sociedade brasileira, desconstrução de estereótipos, quebra de preconceitos, melhor entendimento das hierarquias sociais e processos estruturantes da sociedade brasileira, promoção de uma formação antirracista e anti-discriminatória. para tal, me fundamento no pensamento decolonial e no feminismo negro, privilegiando o diálogo com teóricas/os terceiromundistas – sobretudo da abya yala (américa latina) –, e intelectuais negras/os. o caminho metodológico trilhado envolve tanto a análise de fontes documentais como projeto pedagógico do curso (ppc) de ciências biológicas, planos de ensino das disciplinas obrigatórias e optativas, quanto narrativas orais obtidas por meio de entrevistas de 02 professoras/es formadoras/es, 03 professoras/es em formação inicial e 02 professoras/es egressos em exercício na educação básica, sendo essas narrativas transformadas em mônadas. é importante salientar que historicamente houve um projeto colonialista e racista de silenciamento nas ciências biológicas em relação à temática étnico-racial, porém este quadro está sendo revertido, em especial, nas últimas décadas por meio da inserção paulatina de intelectuais negras/os e professoras/es engajadas/os com a luta antirracistas nas instituições de educação brasileiras. desta feita, o primeiro capítulo da tese apresenta levantamento histórico dos marcos legais que regem a educação escolar formal destinada aos povos indígenas no brasil, de 1500 a contemporaneidade. o segundo capítulo expõe o cenário histórico da educação escolar formal para população negra no brasil, dando ênfase às políticas públicas de ações afirmativas que agem em prol da promoção da equidade racial. já o terceiro capítulo, aborda a formação de professoras/es de ciências biológicas e educação das relações étnico-raciais, buscando os movimentos de silenciamentos e resistências históricos, explicitando a importância dessa área do conhecimento para a desconstrução do racismo. e, por fim, o quarto capítulo é dedicado a compreender o curso de ciências biológicas da ufsc, seu histórico, seus princípios político-pedagógicos, entrelaçando a leitura crítica do ppc com mônadas das/os professoras/es. o percurso teóricometodológico mostrou a dialética constante entre silenciamentos e resistências em relação à educação das relações étnico-raciais na formação de professoras/es de ciências biológicas. os silenciamento se dão na ausência da temática no documento oficial que rege o curso, o ppc, no qual não há ao menos menção a legislação vigente, como as leis 10.639/03 e 11.645/08 e na permanência de disciplinas “fantasmas” no currículo, durante a investigação três disciplinas optativas foram identificadas como promotoras da erer, são elas: estudos afro-brasileiros, oferecida pelo departamento de antropologia ofertada todos os semestres para o curso de ciências sociais; seminário temático - educação étnica multirracial, oferecida pelo departamento de estudos especializados em educação criada e nunca efetivada; e nade-práticas educativas e relações étnico-raciais, oferecida pelo departamento de metodologia de ensino, ofertadas apenas duas vezes, nos anos de 2012 e 2015 para as/os estudantes do curso de pedagogia, destaca-se que as duas últimas disciplinas elencadas não possuem nem mesmo suas ementas disponíveis. em contrapartida, as resistências se dão pelo engajamento das/os professoras/es formadoras/es do curso, em especial das disciplinas educacionais/pedagógicas, em promover a erer positivas em suas aulas; no reconhecimento da importância da temática pelas/os professoras/es em formação inicial e, sobretudo, pela compreensão da potencialidade das ciências biológicas na construção de uma docência comprometida com a vida, com a dignidade das pessoas, com a equidade e com a educação antirracista. desta feita, consideramos necessário pensar numa perspectiva decolonial e antirracista a formação de professoras/es de ciências biológicas, de forma articulada e institucional, privilegiando as experiências de erer positivas que já ocorrem no seio do curso.