Esta pesquisa objetivou desvelar o projeto político-pedagógico que subjaz a residência para a formação de professores no brasil, que tem no programa de residência pedagógica (prp) (capes, 2018) sua expressão mais avançada. trata-se de uma proposta para a formação inicial de professores que emerge no âmbito da política nacional de formação de professores (pnfp) (brasil, 2017), e que conta com a definição de novas diretrizes curriculares nacionais para a formação inicial de professores para a educação básica (dcnfip) e a instituição de uma base nacional comum (bnc-formação) para orientar essa formação (brasil, 2019). a residência pedagógica se insere num contexto de reorganização da política de formação de professores em harmonia com as reformas internacionais dirigidas por organismos multilaterais (om), com a pretensão de (con)formar os trabalhadores às demandas da sociedade capitalista neoliberal, que exigem indivíduos engajados e profissionalmente competentes. ela se inscreve nos debates sobre a profissionalização docente que se desenrolam desde a década de 1990, contexto em que se torna hegemônica uma concepção gerencialista do estado e das políticas públicas, permeada por valores de mercado que prezam pela eficiência e eficácia, isto é, menos investimentos e mais controle e resultados. esses princípios dão suporte a uma orientação curricular para a formação docente que coloca ênfase na prática pedagógica determinando a aproximação do estudante às atividades laborais, com a exigência constante de performance e desempenho a serem avaliados. a periodização da pesquisa considera as principais alterações nas normatizações para a formação inicial de professores dos anos 1990 para cá, principalmente a partir da implementação da lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que institui as diretrizes e bases da educação nacional (ldb) (brasil, 1996). à pesquisa, três procedimentos metodológicos foram empregados: i) levantamento e análise da produção acadêmica na área da educação, buscando indícios de experiências pregressas de residência para a formação docente; ii) levantamento e análise de documentos internacionais produzidos por om com recomendações para a formação de professores que mantêm ligações com a proposta de residência para a formação docente no brasil; iii) cotejamento dos dados com o prp na dimensão da pnfp, o que inclui a bnc-formação e as dcnfip. concluímos que o projeto político-pedagógico que subjaz a residência pedagógica está atrelado à reorganização curricular interna que possui no horizonte a base nacional comum curricular para a educação básica (bncc-educação básica) (brasil, 2017a, 2018), documentos normativos que estão em consonância com as determinações geridas internacionalmente por om com a finalidade de adaptar indivíduos para as incertezas e imprecisões de uma sociedade atravessada pela base produtiva assentada na informática e na microeletrônica. nesse contexto, a residência pedagógica aparece como uma proposta para a formação inicial de professores substituta ao tradicional modelo de estágio curricular obrigatório, mas cumprindo a função de conciliar a formação inicial a uma nova estrutura de organização da carreira do magistério balizada pela avaliação de competências profissionais e produtividade. cumpre assim o papel de um dispositivo de certificação de competências que avaliza se o indivíduo aspirante à carreira do magistério está apto a receber sua habilitação profissional. o que não está explícito é que, apto profissionalmente e cooptado pelos ditames neoliberais da sociedade capitalista contemporânea, o profissional-professor se constitui como um técnico instrumentalizado, empreendedor de si mesmo, disponível à prestação de serviços sob quaisquer condições, e assim, não passa de uma simples peça da engrenagem sociometabólica do sistema capitalista.