Mediante a inquietação acerca da constituição predominantemente masculina da população moradora de rua, o presente trabalho mobiliza os temas das masculinidades e da saúde dos homens buscando identificar suas articulações no cotidiano dos homens moradores de rua. a população moradora de rua é heterogênea e com problemas relacionados à cidadania e a saúde, que são influenciados pelas construções de gênero e masculinidades, dentre outras questões socioeconômicas. entende-se as masculinidades como construções e práticas sociais imersas nas relações de poder, localizadas e atravessadas por fatores sociais, culturais, históricos, econômicos, educacionais e geracionais, sendo que no campo da saúde é compreendido como um determinante estrutural das iniquidades em saúde. o objetivo desta pesquisa foi compreender as construções de masculinidades, suas relações com o contexto da rua e as implicações na saúde dos homens moradores de rua de florianópolis/sc. foi realizada uma etnografia urbana entre os meses de outubro de 2018 a setembro de 2019 com homens moradores de rua que ficavam no bairro centro do município de florianópolis/sc. para coleta de informações realizou-se observação participante com registro de 73 dias no diário de campo, além de 8 entrevistas e 5 gravações de conversas no cotidiano. a análise foi realizada por meio de imersão e leitura do material proveniente da coleta. buscou-se interpretar os significados que os registros apresentavam para os homens moradores de rua, bem como suas articulações internas, recorrências e divergências, com enfoque nas construções de masculinidades, suas relações com as vivências cotidianas e com o processo saúde e doença. os eixos e categorias identificados foram descritos e discutidos a partir de estudos sobre as temáticas. verificou-se que a vida nas ruas é marcada pela imprevisibilidade, vulnerabilidade e adaptação. neste contexto os homens moradores de rua criavam suas regras, socializações e disputas, aprendendo a conviver nos ‘pedaços’, a lidar com as pessoas não moradoras de rua, a conseguir recursos financeiros, comida, roupas e outros itens básicos, bem como as formas de lidar com as intempéries. as construções de masculinidades das ruas influenciaram na autopercepção dos homens e nas suas relações. foram identificadas quatro manifestações de masculinidade: masculinidades de atitude, masculinidades dominadoras, masculinidades maleáveis e masculinidades solidárias, produzidas a partir de deslocamentos nos comportamentos e práticas dos homens moradores de rua, devido às peculiaridades das vivências nas ruas. as manifestações de algumas práticas de masculinidades foram dificultadores para a realização de cuidado entre os homens moradores de rua, influenciando na percepção sobre a saúde e a doença, na naturalização das violências e no afastamento dos serviços de saúde.