Os direcionamentos das políticas públicas educacionais envolvem interesses políticos, ideológicos e econômicos. organismos multilaterais, como aorganização para a cooperação e desenvolvimento econômico(ocde) publicam documentos com recomendações e estratégias para influenciar as políticas educacionais, propagando as competências necessárias para o século xxi. buscamos analisar como as competências socioemocionais estão estabelecidas na base nacional comum curricular (bncc) e a justificativa para sua inserção no currículo escolar da educação básica. por meio da implementação obrigatória da bncc e das parcerias público-privadas, desenvolve-se um amploe lucrativo nicho de mercado para o capital, formado pela oferta de soluções digitais e diversos produtos e serviços para o desenvolvimento das competências gerais indicadaspara a formação dos alunos, além da oferta de formação para os professores e gestores, a fim de que se adaptem às diretrizes do documento. nosso objetivo é analisar os interesses que permeiam a constituição do novo nicho de mercado voltado à oferta de soluções digitais para o desenvolvimento de competências socioemocionais propostas pela bncc.fundamentamo-nos no materialismo histórico-dialéticoao analisar as contradições de como a educação, um direito universal, tida como um ?bem público?, é oferecida por empresas privadas que valorizam o valor por meio da educação pública.parte do fundo público, que é constituído em sua maior fração por impostos e taxas pagos pela classe trabalhadora, é transferida para a iniciativa privada, financeirizando o que deveria ser um direito social. a formação dos estudantes - futuros trabalhadores - com as competências socioemociocionais conduz ao desenvolvimento da sociabilidade requerida pelo capital, composta pelos valores da classe burguesa, difundidos como se fossem universais, promovendo características como: resiliência, autonomia, amabilidade, colaboração, autocontrole, responsabilidade, comprometimento, entre outros, buscando formar um ?cidadão engajado?. o capital também propaga a ideia de ?aprendizagem ao longo da vida? para que o sujeito seja capaz de se atualizar permanentemente para o ?mundo do trabalho? que se modifica de maneira acelerada. esta aprendizagem contínua deve ser financiada pelo próprio trabalhador, como um autoinvestimento, a fim de tentar garantir sua ?empregabilidade?.a possibilidade da mobilidade social via escolaridade é um dos discursos do capital para adequar o perfil do homem exigido no projeto de sociabilidade burguesa. ao responsabilizar o trabalhador por suas conquistas pessoais, o capital justifica as desigualdades sociais e oculta as relações sociais reproduzidas no capitalismo, que geram a concentração de riqueza em um polo, e a pobreza no outro,buscando perpetuar a reprodução das relações sociais capitalistas. trabalhamos com a hipótese de que, para além do interesse político na formação dos trabalhadores, há especial propósito do empresariado na bncc pela possibilidade da constituição de um novo nicho de mercado mundial, o que amplia as possibilidades do capital seguir em busca da valorização do valor por meio da educação pública.