O tratamento de resíduos sólidos orgânicos por digestão anaeróbia é eficaz na degradação da matéria orgânica, e gera subprodutos que podem ser aproveitados. entre estes o biogás, que pode ser aplicado para diversos usos, e o material digerido ou digestato, que pode ser aproveitado na agricultura. esta pesquisa teve como objetivo avaliar o uso do digestato resultante da digestão anaeróbia de resíduos alimentares como biofertilizante. previamente à sua aplicação na agricultura, o digestato foi coletado do digestor metanogênico e acumulado entre abril e julho de 2019. ainda, uma parte desde digestato acumulado foi mantido armazenado e inalterado até dezembro de 2019. outra parte foi seca em estufa de laboratório a 65ºc. também foram realizados três ensaios de germinação para avaliar a toxicidade do digestato utilizando sementes de alface (lactuva sativa). as concentrações de digestato testadas, em que foi feita diluição com água destilada, foram de 5%, 10%, 25%, 50% e 100% (puro). foram testados o digestato acumulado entre abril e julho, o digestato seco em estufa e ainda dois digestatos coletados em dois períodos distintos, em que o sistema de metanização operava com carga orgânica volumétrica de 6 e 8 kgstv.m-3 .dia-1 . para avaliação da ecotoxicidade, foi realizado um teste agudo com o microcrustáceo dapnhia magna. por fim, o digestato foi aplicado na cultura da alface em dois experimentos diferentes, sendo um iniciado em julho de 2019 e outro em outubro, com duração média de 60 dias e aplicando-se os seguintes tratamentos: ds - digestato sólido seco em estufa a 65ºc; 100% dl - digestato líquido; min - fertilizante mineral (npk); min+dl - digestato líquido na proporção 1:1 com fertilizante mineral; min+ds - digestato sólido misturado na proporção 1:1 com fertilizante mineral; controle, sem fertilização; e 50% dl - digestato líquido diluído em água na proporção 1:1. em termos de avaliação do digestato, observou-se que este sofreu variações de acordo com a carga orgânica volumétrica aplicada no sistema de metanização, apresentando valores maiores dos nutrientes para uma carga mais elevada. ainda, os diferentes tratamentos aplicados modificaram os parâmetros físico-químicos do digestato, com destaque para o digestato seco em que o ph se elevou consideravelmente e ocorreu concentração de nutrientes. nos ensaios de germinação com o digestato líquido, de forma geral, o digestato menos diluído (diluições de 50% e 100%) causou toxicidade para as sementes de alface, mas para as maiores diluições (5%, 10% e 25%), o resultado foi positivo com crescimento das sementes. o digestato foi avaliado como muito tóxico no ensaio agudo com dapnhia magna. em relação ao experimento em vasos, observou-se que o aumento da temperatura no segundo experimento provocou maior crescimento das alfaces. para a maior parte dos parâmetros não foram verificadas diferenças estatísticas entre os tratamentos min e min+dl, em ambos os plantios. o digestato líquido (100% dl) e o sólido (ds) também elevaram o ph do solo em ambos os experimentos. de forma geral, ambos os digestatos, líquido e sólido, apresentaram boa performance quando misturados com fertilizante mineral, ou seja, é possível a minimização do uso destes fertilizantes e o aproveitamento do digestato na agricultura.