As discussões acerca do erotismo e da pornografia no brasil tomam um contorno drástico ao longo dos anos 1980, de que é exemplo um pronunciamento de joão figueiredo, no qual o último ditador brasileiro, amparado por valores cristãos, apresenta seu prognóstico de que a sociedade estaria enfrentando uma crise expressiva, deteriorada pela expansão do obsceno e da licenciosidade, propondo como medida combativa uma cruzada moral para perseguir os transgressores. é a partir desse contexto que hilda hilst e zé celso, logo na virada da década, apresentam projetos que referendam questões relativas à sexualidade e ao obsceno. de um lado, a escritora paulista publica sua tetralogia obscena, série de livros pornográficos em prosa e verso, dentre eles o caderno rosa de lori lamby e contos d’escárnio. textos grotescos. do outro, zé celso, junto à associação teat(r)o uzyna uzona, retorna aos palcos de são paulo com espetáculos, como bacantes, mistérios gozosos e pra dar um fim no juízo de deus, e consolida seu projeto de construir um espetáculo orgiástico de multidão ou tragycomediorgyas. o objetivo desta dissertação, nessa via, é o de propor um diálogo entre o diretor teatral e a escritora, buscando discutir, a partir, principalmente, das contribuições de bataille, bakhtin e foucault, quais seriam as propostas apresentadas pelos artistas, além de como elas dialogam entre si e como respondem tanto à época em que vivem, quanto à tradição em que se inserem.