Este trabalho teve como objetivo apreender os determinantes que atuaram para a constituição do público-alvo da educação especial (paee) nas políticas para a educação no brasil. a necessidade de investigar esse tema decorreu da constatação de que os documentos da política educacional brasileira, elaborados em diferentes épocas, apresentam alterações em relação às terminologias, conceitos e aos próprios grupos de estudantes que compõem o paee. partindo dos pressupostos teóricos e metodológicos do materialismo histórico e dialético, consideramos que a política não pode ser pensada descolada da história e da economia. nessa perspectiva, entendemos que as mudanças na conceituação, bem como a inclusão/exclusão de determinados grupos como beneficiários da política de educação especial, devem ser analisadas a partir das condições materiais de sua produção. como procedimentos metodológicos de pesquisa, lançamos mão da análise documental além do balanço das produções acadêmicas sobre o tema, o que nos permitiu constatar a ausência de estudos que tenham buscado analisar o paee como expressão da correlação de forças pela hegemonia política da educação especial brasileira. nossa análise documental compreendeu três períodos, nos quais foram formulados os seguintes documentos normativos e orientadores que demarcaram, dentre as mudanças na forma de organizar a educação especial, aquelas relativas ao seu público-alvo: política nacional de educação especial, lançada em 1994; diretrizes nacionais para a educação especial na educação básica, publicada em 2001; e política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva, lançada em 2008. constatamos que a constituição do paee nas políticas educacionais brasileiras foi influenciada por aparelhos privados de hegemonia e intelectuais da sociedade civil que mantiveram forte articulação junto à sociedade política, de modo que seus interesses fossem atendidos. identificamos, também, a influência de organismos multilaterais, que têm disseminado a perspectiva de inclusão escolar dos sujeitos que tradicionalmente estiveram “excluídos” da escola, na constituição do paee nos documentos da educação no brasil. além disso, nossa investigação aponta para a hipótese de que a (re)configuração do público-alvo das políticas de educação especial tem relação com a distribuição de recursos financeiros para essa modalidade de educação. a partir da constatação sobre as disputas em torno da constituição do paee nas políticas educacionais brasileiras, buscamos analisar os movimentos políticos relacionados aos grupos de estudantes que tradicionalmente compõem o paee. nossa análise indicou que determinados sujeitos – individuais e coletivos – da sociedade civil, que representam os grupos de estudantes paee, articularam-se, cada qual à sua maneira, de forma a terem suas demandas mais ou menos incorporadas às políticas públicas. por fim, identificamos que as disputas travadas em relação à constituição do público-alvo das políticas de educação especial, não se referem a lutas por outra sociabilidade, que possa superar os processos que os conduzem ao patamar de “excluídos”, mas consistem em lutas pela inserção desses grupos nesse modelo de sociedade.