A atividade leiteira é de suma importância socioeconômica para milhares de agricultores brasileiros. o sucesso da bovinocultura de leite está diretamente atrelado ao desempenho do sistema de criação da bezerra. o baixo desenvolvimento da bezerra durante a fase de aleitamento pode prejudicar a produtividade da futura vaca e comprometer a sustentabilidade da atividade leiteira nas unidades agropecuárias familiares (uafs). no brasil, escassas são as informações sobre morbimortalidade de bezerras leiterias lactentes, o que tem dificultado a elaboração de políticas públicas para o setor. os objetivos deste estudo foram identificar a taxa e os fatores associados à morbidade, à mortalidade e ao ganho de peso de bezerras leiteiras lactentes em uafs do rio grande do sul (rs), além de conhecer as percepções dos agricultores acerca do sistema de criação. foram avaliados aspectos que envolvem o agricultor, o ambiente e o animal, incluindo o manejo, a nutrição, a sanidade e alojamentos do sistema de criação da bezerra, do nascimento ao desaleitamento. o projeto foi realizado no rs, compondose de três estudos. o primeiro avaliou a taxa de mortalidade e fatores associados e teve abrangência estadual, totalizando 1451 respondentes, de 307 municípios do estado. questionários encaminhados via e-mail aos escritórios municipais da emater/rs de todas as regiões do estado foram respondidos por agricultores, com auxílio de técnicos colaboradores que posteriormente fizeram o registro online. o segundo estudo avaliou as taxas de morbidade, de mortalidade e de ganho de peso e fatores associados em 70 uafs, de 27 municípios do norte do rs. as informações foram obtidas ao longo de 12 meses, através de questionário face a face, observação direta do ambiente e dos animais e fichas individuais das bezerras. o terceiro estudo investigou as percepções, atitudes e escolhas dos agricultores sobre o sistema de criação da bezerra, envolvendo 25 entrevistas em profundidade. nos dois primeiros estudos, a associação das variáveis explicativas com a morbidade e a mortalidade foram analisadas com modelos de regressão logística e com o ganho de peso com modelos lineares. todas as análises estatísticas foram realizadas com o software r. o terceiro estudo caracterizou-se como descritivoexploratório, utilizando uma abordagem quantitativa e qualitativa. a taxa de mortalidade pré-desaleitamento estadual relatada pelos agricultores foi de 8,5%. na região norte, as taxas de mortalidade, de morbidade e de ganho de peso foram 6,8%, 29% e 570 g/d, respectivamente. a diarreia foi a principal doença que acometeu as bezerras e também a principal causa da morte. os principais fatores que se associaram significativamente (p = 0.05) com a mortalidade foram raça do rebanho, acompanhamento do parto, tempo da neonata junto à mãe e sistema de alojamento. a estação de nascimento e a idade ao desaleitamento associaram-se significativamente com a morbidade. os preditores raça, quantidade de leite, dieta líquida e quantidade de ração associaram-se significativamente com o ganho de peso das bezerras. conclui-se que as taxas de morbidade e de mortalidade verificadas são semelhantes, e o ganho de peso menor, ao relatado por outros estudos internacionais. a variação na taxa de mortalidade entre as uafs foi ampla, com a maioria das mortes concentrando-se em poucas uafs, sugerindo que as mortes ocorrem especialmente devido a qualidade do manejo e que é possível reduzir a mortalidade, melhorando a gestão do sistema de criação da bezerra. as percepções, atitudes e escolhas acerca das estratégias de manejo da bezerra, e da importância da bezerra lactente para atividade leiteira, pareceram ser influenciadas por fatores intrínsecos (autorresponsabilidade, ambição econômica) e extrínsecos (assistência técnica, sucessão familiar, vivências, especialização e comprometimento familiar) aos agricultores. via de regra, os agricultores não perceberam o bem-estar das bezerras como importante, adotando práticas de manejo exclusivamente em função da praticidade e do resultado econômicos. em síntese, os resultados da presente pesquisa sugerem que a baixa qualidade dos manejos adotados na criação da bezerra, pelos agricultores gaúchos, pode ajudar a explicar o baixo desempenho produtivo e a inviabilização econômica da atividade leiteira em muitas uafs do rs. reduções na mortalidade podem ser obtidas com a capacitação dos agricultores de modo que eles possam ter atitudes positivas em relação à criação da bezerra e adotar manejos que privilegiem a sanidade e o desempenho da bezerra e da futura vaca. os resultados deste estudo podem ser úteis para futuras comparações entre uafs, subsidiar extensionistas, consultores e laticínios e orientar programas oficiais de incentivo à atividade leiteira. este é o primeiro projeto de pesquisa, que temos conhecimento, que avalia a morbimortalidade e o ganho de peso de bezerras leiteiras lactentes no brasil.