
Universidade Federal de Santa catarina (UFSC)
Programa de Pós-graduação em Engenharia, Gestão e Mídia do Conhecimento (PPGEGC)
Detalhes do Documento Analisado
Centro: Filosofia e Ciências Humanas
Departamento: Antropologia/ANT
Dimensão Institucional: Pesquisa
Dimensão ODS: Institucional
Tipo do Documento: Projeto de Pesquisa
Título: ARTE, RITUAIS E TRANSFORMAÇÕES NO CHACO
Coordenador
- MARIA EUGENIA DOMINGUEZ
Participante
- MARIA EUGENIA DOMINGUEZ (D)
Conteúdo
1. introdução
este projeto de pesquisa da c...1. introdução
este projeto de pesquisa da continuidade aos estudos etnográficos que realizo na região do chaco desde 2014. o projeto trata da arte e os rituais dos guarani, chané e isosenhos na região fronteiriça entre a bolívia, a argentina e o paraguai. os problemas e perguntas teóricas que guiam a proposta inspiram-se fundamentalmente na perspectiva da antropologia da arte, onde se destaca o potencial de pensar os rituais, as artes e as musicalidades na sua performatividade (tambiah, 1985).
os chané e isosenhos são descendentes de antigos grupos da família linguística arawak estabelecidos no leste dos andes no atual território boliviano. autores como erland nordenskiöld (1920) ou alfred métraux (1946) afirmam que os chané foram conquistados e submetidos por grupos tupi-guarani que migraram do leste em direção aos andes no século xvi. deste encontro surgiram as sociedades que, de modo geral, a etnologia e a antropologia histórica do grande chaco referem como chiriguanos (combès, 2005: 68-75). porém, a maioria desses grupos usa atualmente o etnônimo guarani. contudo, o mapa étnico da região é diversificado e o rótulo guarani é uma categoria que engloba aos ava, isosenhos, tapiete, simba e, linguisticamente, também aos chané. na maioria dos casos vivem muito próximos de outros povos chaquenhos (ayoreo, manjui, enlhet e nivaklé no paraguai; wichi, toba, chulupí e chorote na argentina; weenhayek e ayoreo na bolívia). por sua vez, a área reúne, culturalmente, o que a etnologia tradicionalmente separou como características das terras altas e das terras baixas na américa do sul. o noroeste do chaco já foi descrito na literatura antropológica através da metáfora da “dobradiça” (combès e villar, 2012) para referir a essa articulação de características dos povos que a etnologia considera tipicamente chaquenhos e das sociedades andinas. situados na fronteira entre essas duas grandes áreas culturais ou etnográficas, essas sociedades são uma zona de contato e de trocas entre terras altas e baixas. a essa antiga interculturalidade soma-se a diversidade que a história moderna trouxe para a área, que hoje esta atravessada por limites internacionais entre três países: bolívia, paraguai e argentina. nessa história, a guerra do chaco (bolívia- paraguai, 1932- 1935) implicou num processo de profunda reconfiguração do espaço: a guerra acelerou os deslocamentos de famílias indígenas, impulsionou mestiçagens, redefiniu territorialidades e etnônimos (capdevila, combès, richard, 2008). a guerra designa, também, o processo de colonização do chaco por não indígenas – colonos, religiosos, militares - e a reconfiguração do mundo indígena chaquenho do século xx (capdevila, 2010). os grandes contingentes que foram desde a bolívia rumo ao leste com a guerra reuniriam nos fortins e nas missões famílias ava-guarani, chané-isosenhos e ñandeva, que passariam por sua vez a dividir o espaço com nivaklé, manjui e enlhet. a “guerra”, então, alude a um processo de deslocamentos e reconfiguração étnica que começa antes da guerra em si e que continua depois dela. este projeto trata dos indígenas guarani ocidentais ou guarayos que desde a época da guerra vivem no chaco paraguaio. estuda-se a história das cinco comunidades que fundaram após serem forçosamente deslocados e do ritual que anualmente celebram em todas elas: o arete guasu. neste ritual, conhecido como a grande festa dos guarani do chaco (toro, 2000), participam também pessoas de outros grupos étnicos que vivem na região como os guarani-ñandeva, nivaklé, manjui e pessoas não indígenas.
2. problemas abordados na pesquisa
o arete guasu é um ritual que se celebra desde antigamente entre os guarani, chané e isoseños da bolívia e argentina, sendo descrito pelos missionários franciscanos no século xix como uma festa de convite fundamental nas relações diplomáticas dos chiriguano . nas comunidades dos três países ele revela semelhanças formais consideráveis. a pesar de existirem diferenças étnicas, dialectais e nacionais entre o grande número de comunidades que o celebram, o arete revela a existência de conhecimentos partilhados . como em outros casos, o ritual opera aqui como língua franca, englobando as diferenças étnicas e linguísticas. a pesquisa da centralidade ao fato de que o ritual dos guarani multiplica-se em diferentes pontos do espaço a pesar das profundas transformações registradas na vida dos povos guarani e isosenhos do chaco paraguaio depois da guerra. ele é um meio eficaz para modelar relações com os não indígenas (menonitas que em muitos casos são patrões, militares, religiosos católicos e representantes das instituições de governo) e, fundamentalmente, com os outros grupos étnicos junto a quem os guarani habitam a região . deve se observar que as cinco comunidades às quais refiro não são formalmente uma unidade política nem têm instâncias de representação que de fato às agreguem. porém, as trajetórias de vida dos seus habitantes muitas vezes se desenham como uma sucessão de deslocamentos entre tais comunidades, deslocamentos que contribuem para a elaboração de relações entre elas. o tempo do arete (e o termo arete, do guarani, pode ser traduzido ao português como “tempo verdadeiro”) é o tempo em que tais deslocamentos entre as cinco comunidades se intensificam.
a pesquisa aqui proposta pretende aprofundar o estudo dos seguintes temas:
2.1) as memórias dos deslocamentos dos guarani e isosenhos da bolívia ao paraguai com a guerra do chaco e do processo de formação de diferentes comunidades no chaco boreal paraguaio; a dinâmica espacial que estabelece-se entre as comunidades da área graças à celebração anual do ritual arete guasu. neste ponto busca-se retomar os problemas de pesquisa já colocados por bonifacio (2017); canova (2018); vieira, amoroso e viegas (2015); lowrey (2011); siffredi e santini (1993); stahl (1974; 2007); susnik (1968).
2.2) as transformações nos conhecimentos e habilidades musicais associados ao arete guasu; a organização do repertório que estrutura musicalmente o arete guasu e as suas relações com as outras linguagens que compõem o ritual. este ponto retoma contribuições teóricas e etnográficas do âmbito da etnomusicologia e da antropologia da arte surgidas tanto de estudos realizados entre os indígenas chaquenhos quanto entre outras sociedades indígenas da américa do sul. os principais interlocutores que guiam a elaboração deste ponto do projeto são escobar (2012); menezes bastos (1999); sánchez (1998).
2.3) as técnicas de figuração que exprimem-se na confecção de máscaras utilizadas no arete guasu, a análise do mascaramento ritual e os processos criativos envolvidos na objetificação de conhecimentos. em relação a esta temática tomam se como pontos de partida as propostas teóricas de villar e bossert (2014), severi (2014) e lagrou, (2014).
2.4) os potenciais do uso de meios audiovisuais na pesquisa etnográfica em artes. neste ponto busca-se dialogar, fundamentalmente, com as propostas conceituais de caiuby novaes (2015, 2008). o tema será explorado partindo da experiência de realização de uma série de vídeos concebidos como meios de pesquisa etnográfica (domínguez 2019, 2018a, 2018b, 2018c).
3.plano de atividades
durante o período em que terá vigência este projeto pretendo trabalhar com os dados produzidos em trabalho de campo etnográfico nos últimos anos e realizar novas etapas de trabalho de campo. a metodologia desta pesquisa tem como base a etnografia em comunidades guarani e isosenhas do chaco boreal paraguaio. ela incluiu a participação e observação no cotidiano e nos rituais das comunidades, observação e registro das técnicas de fabricação de máscaras e dos instrumentos musicais, entrevistas com foco nas histórias de vida dos sujeitos entrevistados, mapeamento de redes de parentesco intercomunitárias, mapeamento da participação em rituais intercomunitários e nos circuitos artísticos e musicais metropolitanos. no trabalho de campo etnográfico realizado durante os últimos anos deu se bastante centralidade à gravação e filmagem das performances, das caminhadas no mato para recolher materiais, dos procedimentos que fazem parte da fabricação de máscaras, e das entrevistas. projeta-se dar continuidade a essas pesquisas para a elaboração de novos materiais a serem analisados no período em que terá vigência este projeto.
4. objetivos
-fazer duas viagens de trabalho de campo etnográfico ao chaco paraguaio;
-realizar trabalho de edição de gravações e filmagens realizadas em trabalho de campo etnográfico;
-escrever artigos e capítulos de livros, em torno dos eixos temáticos apresentados acima itens 2.1; 2.2; 2.3; 2.4, para publicar em revistas acadêmicas.
-participar das reuniões de trabalho do projeto frocglob “fronteras culturales en un mundo global: antropología comparada de los límites culturales y sus consecuencias sociopolíticas” para compartilhar os resultados da pesquisa com os outros pesquisadores que integram o projeto;
-sistematizar os dados p
Pós-processamento: Índice de Shannon: 3.83489
ODS 1 | ODS 2 | ODS 3 | ODS 4 | ODS 5 | ODS 6 | ODS 7 | ODS 8 | ODS 9 | ODS 10 | ODS 11 | ODS 12 | ODS 13 | ODS 14 | ODS 15 | ODS 16 |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
5,66% | 4,70% | 6,72% | 6,30% | 5,60% | 3,09% | 4,08% | 9,71% | 9,34% | 3,38% | 7,80% | 3,22% | 3,90% | 3,43% | 7,34% | 15,72% |
ODS Predominates


5,66%

4,70%

6,72%

6,30%

5,60%

3,09%

4,08%

9,71%

9,34%

3,38%

7,80%

3,22%

3,90%

3,43%

7,34%

15,72%