Objetivos e metas: o projeto visa investigar e ...objetivos e metas: o projeto visa investigar e definir quais são as principais contribuições que a filosofia pode oferecer aos debates contemporâneos sobre a noção de sofrimento e dos seus “antídotos” a partir do modo como estes são concebidos na metafísica imanente de schopenhauer e em noções da teoria crítica de horkheimer. consideraremos que schopenhauer centrou-se no aparato individual do sofrimento - e da compaixão como um dos modos espontâneos de enfrentamento da dor; e que horkheimer, influenciado por aquele, dinamizou a questão com a investigação dialética de aparatos sociais do sofrimento, ressoando em sua noção de solidariedade certos aspectos da ética schopenhaueriana da compaixão. por isso mesmo, objetiva-se especificar elementos das noções de individualidade e de sociedade enquanto esferas necessariamente requeridas para aquela primeira definição, isto é, analisar, em específico: i) qual é a noção de indivíduo a que o sofrimento se refere; ii) em qual (ou quais) tipo(s) de sociedade(s) seu sofrimento se torna “sofrimento social”; iii) quais seriam as contribuições positivas da filosofia pessimista de schopenhauer para o intentos de emancipação no(s) tipo(s) de sociedade(s) pautado(s) por horkheimer. em se tratando de resultados esperados em termos de publicação, uma das metas será o trabalho de análise, tradução e posterior publicação em um volume dos cinco artigos que horkheimer escreveu sobre schopenhauer, um material ainda pouco debatido. esta meta, ao lado de artigos e do livro a serem publicados com os resultados das investigações, representará uma contribuição inovadora para os debates brasileiros e internacionais sobre as sempre estranhadas relações da teoria crítica com o pessimismo metafísico schopenhaueriano. problema: admitidos tanto os interesses em comum de schopenhauer e horkheimer pela questão do sofrimento quanto a influência difusa do primeiro no segundo em torno do assunto, quais seriam os estatutos filosóficos da noção de sofrimento, assim como as formulações éticas de seus “antídotos” e enfrentamentos, de suas “denúncias” e de seus combates, engendrados pelas duas filosofias em suas imbricações? na metafísica imanente schopenhaueriana, a vontade necessariamente gera sofrimento. em horkheimer e outros representantes da teoria crítica, os padecimentos socialmente condicionados mudam ou se alteram em pelo menos dois importantes registros. o primeiro deles se refere aos inícios da teoria crítica com sua vinculação especial entre a tradição idealista da filosofia e o materialismo dialético em vista da emancipação do homem de sua situação escravizadora; e se schopenhauer, ao lado de marx, influenciou “decisivamente” horkheimer nas formulações desses “inícios”, ao mesmo tempo horkheimer não nos lega nenhum delineamento claro dos contornos dessa sua fonte. neste período, horkheimer cita schopenhauer de forma não detida em muitos textos. o segundo registro dá-se no contexto da virada da teoria crítica, em que outra concepção de sociedade será elaborada, mesmo que a noção de sofrimento continue figurando de modo genérico. nesta fase, ainda que não pretendamos estendê-la até os últimos escritos de visadas teológicas, schopenhauer e suas teses pessimistas são muito mais presentes, a julgar pelos cinco artigos publicados no schopenhauer-jahrbuch e dedicados exclusivamente à filosofia schopenhaueriana. embora nenhum desses artigos eleja especificamente o tema do sofrimento, todos pressupõem e apreciam, direta ou indiretamente, o pensador da vontade e da compaixão como “denunciante” dos males, das perversidades, do fundo obscuro e das múltiplas realidades de sofrimento, todas injustificadas. de schopenhauer, a tese fulcral de que, assumidos o mundo e o ser humano como constituídos de volições sem-fundamento e desejos incessantes, o sofrimento nos é inerente, embora haja formas de enfrentamento - em geral, individualísticas - e contribuições filosóficas nos planos da ação ética e da sabedoria. de horkheimer, as ideias de que: a) nos anseios iniciais da teoria crítica, como elemento diferenciador em relação às teorias tradicionais, estariam, p. ex., a incumbência de aliar materialismo interdisciplinar com pesquisa empírica em vista de “emancipar o homem de suas condições escravizadoras” e b) a valorização de uma “ética da solidariedade” ante a sociedade administrada e a reformulação do conceito de razão. em outros termos, assumiríamos, por um lado, o sofrimento fundamentado metafisicamente por schopenhauer e, por outro, o sofrimento historicamente instituído ao modo com que a teoria crítica o pautou em diferentes elaborações. metodologia: trata-se de uma pesquisa eminentemente bibliográfica. a abordagem crítica a ser empregada nela corresponde à adoção de uma metodologia de cunho estrutural, isto é, que parte da consideração do “tempo lógico” dos autores cujos textos são fundamentais para a pesquisa (schopenhauer e horkheimer). isso significa que levaremos em conta a fidelidade aos textos e a capacidade de interpretação e contextualização dos textos primários. será utilizada uma literatura secundária atualizada e predominantemente oriunda de grupos e centros de pesquisas brasileiros e estrangeiros, em especial daqueles dedicados a schopenhauer e à schopenhauer-schule - que tem horkheimer como um de seus representantes -, principalmente em vista da originalidade e da autonomia das abordagens.