Embora o sistema nervoso central represente ape...embora o sistema nervoso central represente apenas 2% do total da massa corporal de um humano adulto, cerca de 25% de todo o colesterol do corpo é concentrado neste tecido. grande parte deste colesterol está confinado às bainhas de mielina (cerca de 70%). o restante do colesterol encontra-se disperso em lipoproteínas gliais e na composição da membrana de diferentes vesículas e células presentes no tecido. devido ao caráter lipofílico, os lipídeos formam nanodomínios de membrana altamente dinâmicos e heterogêneos– as jangadas lipídicas – os quais são fundamentais nos processos de plasticidade sináptica e na organização espacial dos diferentes receptores envolvidos nos processos de ltp (potenciação de longo prazo, do inglês, long-term potentiation), tais como receptores nmda e a proteína de densidade a pós-sináptica 95 (psd-95). as jangadas lipídicas participam de processos celulares e contribuem para a organização precisa e espacial das moléculas requeridas nas espinhas dendríticas. alterações no fluxo de colesterol em células hipocampais também podem interferir na ltp. aumento do efluxo de colesterol na região ca1 do hipocampo de ratos causa aumento de intensidade no paradigma de pulso pareado e na ltp. aumentos exagerados no efluxo, entretanto, induzem degeneração neuronal. estes achados sugerem que a modulação do colesterol nas células hipocampais é capaz de interferir em processos de potenciação e mesmo na viabilidade das células deste tecido. interessantemente, intervenções dietéticas e farmacológicas no metabolismo do colesterol afetam a formação de novas memórias em roedores. condições hipercolesterolêmicas parecem prejudicar a aprendizagem tanto em ratos como camundongos, interferindo na memória de trabalho, na formação de memórias de curto prazo e na formação de memórias de longo prazo. por outro lado, condições “hipocolesterolêmicas”, como quando da utilização de estatinas (inibidores da via de síntese do colesterol) ou de metil-beta-ciclodextrina, sequestrador de colesterol, parecem prejudicar a estabilidade das jangadas lipídicas e prejudicaram a ltp na região ca1 do hipocampo de cavia porcellus (porquinho da índia). estas evidências sugerem, embora de modo complexo, que há envolvimento da via biossintética do colesterol nos eventos mnemônicos e na plasticidade sináptica associada a eles, porém não são precisos em quanto e como essa interferência está relacionada com estes fenômenos. a hipótese deste trabalho é de que se manipulada agudamente durante as fases de formação e atualização de uma memória aversiva contextual seja possível verificar de maneira mais efetiva a relação entre esta via bioquímica e memória. desta forma, o objetivo da presente proposta é investigar os efeitos da inibição da via do mevalonato (i.e., via de síntese do colesterol) por meio do uso de fármacos inibidores desta via (i.e., estatinas) em diferentes fases de uma memória aversiva contextual (i.e., aquisição, consolidação, evocação e reconsolidação), na ltp e na formação de espinhos dendríticos hipocampais. memória aversiva é um tipo de memória associativa entre um estímulo ambiental (ou mudanças no ambiente) e um estímulo aversivo. por meio dela os organismos aprendem a evitar estímulos que possam colocar a vida em risco, ampliando suas chances de sucesso reprodutivo e diversificando suas estratégias adaptativas. o estudo deste tipo de memória também é importante na investigação dos mecanismos envolvidos em psicopatologias associadas ao medo, estresse e ansiedade, tal como o transtorno do estresse pós-traumático.