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Universidade Federal de Santa catarina (UFSC)
Programa de Pós-graduação em Engenharia, Gestão e Mídia do Conhecimento (PPGEGC)
Detalhes do Documento Analisado

Centro: Não Informado

Departamento: Não Informado

Dimensão Institucional: Pesquisa

Dimensão ODS: Institucional

Tipo do Documento: Projeto de Pesquisa

Título: O ANTROPOCENO, OS FEMINISMOS OCIDENTAIS E DESCOLONIAIS: ESTABELECENDO CONEXÕES PARCIAIS NA ARTICULAÇÃO POLÍTICA DE ONTO-EPISTEMOLOGIAS

Coordenador
  • CLAUDIA JUNQUEIRA DE LIMA COSTA
Participante
  • CLAUDIA JUNQUEIRA DE LIMA COSTA (D)

Conteúdo

Este projeto visa dar continuidade à pesquisa e...este projeto visa dar continuidade à pesquisa em andamento contemplada com bolsa de produtividade em pesquisa/cnpq (2014-2018). naquela pesquisa, recorrendo ao tropo da tradução e à noção de equivocação, emprestada do perspectivismo ameríndio, explorei o pensamento descolonial nos feminismos latino-americanos a partir dos debates sobre colonialidade do poder e do gênero. os objetivos traçados então levantaram os seguintes questionamentos: • de que forma as teorias feministas no contexto latino-americano “traduzem” a crítica descolonial? • quais os lugares de enunciação possibilitados pela intersecção entre as teorias feministas e descolonização do gênero (e do saber)? • quais mediações são necessárias nas traduções dos feminismos descoloniais latino-americana? quais seus limites? alguns resultados da pesquisa foram apresentados em antologia sobre crítica feminista, artigos publicados em livros e periódicos, apresentações em congressos nacionais e internacionais, bem como em disciplinas ofertadas nos programas de pós-graduação em literatura (pglit) e em inglês (pgi). no entanto, ao buscar respostas aos questionamentos acima, e principalmente diante das leituras feitas em relação ao perspectivismo ameríndio a partir da noção de tradução como equivocação, deparei-me com os debates feministas sobre o novo materialismo e discussões epistemológicas no campo denominado ontologia de orientação aos objetos (object-oriented ontology). o elo comum articulando essas abordagens ontológicas aponta para a necessidade do descentramento do humano e dos binarismos humano/não humano e cultura/natureza. o declínio do humanismo ocidental, aliado às constantes crises ecológicas que marcam a era do antropoceno, trazem à tona o surgimento de um pensar centrado no pós-humano. este, então, se tornou para mim um novo caminho de pesquisa que pretendo trilhar nesta nova etapa do projeto de pesquisa. objetivo o objetivo maior deste projeto é articular os debates dos feminismos materiais com as intervenções críticas feministas descoloniais na tentativa de construir conexões parciais entre as duas correntes. em vez do chamado por parte das feministas descoloniais para uma “desvinculação” dos legados ontológicos e epistemológicos eurocêntricos (ou da episteme moderna/colonial), argumentarei por uma prática alternativa de "vincular" essas duas correntes feministas de outra forma. para isso, irei me concentrar em uma questão urgente que nos afeta atualmente – os desafios das mudanças climáticas – e explorar como a crítica feminista desenvolvida tanto no norte global (feminismos materiais) quanto no sul (feminismos descoloniais) podem construir conexões parciais, termo este que tomo emprestado de marilyn strathern (1991) e donna haraway (1991), respectivamente justificativa e fundamentação teórica: falar de mudanças climáticas é invocar os acalorados debates sobre o antropoceno, o qual se refere a uma nova era geológica em que os seres humanos se tornaram uma força geológica. segundo dipesh chakrabarty (2008), fatores antropogênicos que contribuem para o aquecimento global - como a queima de combustíveis fósseis, a produção industrial de gado de corte, o desmatamento de florestas tropicais, entre outros, que, aliados ao desenvolvimento do capitalismo no ocidente, inauguraram uma nova era, o antropoceno, tendo como corolário o colapso da separação entre cronologia humana e geológica. para este autor, tal fusão cronológica demanda, além da crítica ao capitalismo, pensarmos o humano – ou a humanidade – como espécie (species thinking). teóricas feministas como donna haraway, susan hekman, stacy alaimo, karen barad, entre outras, que teorizam sobre o retorno da matéria nas teorias feministas já vêm escrevendo há algum tempo sobre as múltiplas dimensões da articulação entre noção de espécie e humanidade. em outras palavras, nós, como espécies, estamos sempre já conectados/as a outras espécies e a extinção em massa de uma espécie pode afetar drasticamente a vida de outras espécies. este pensar como espécie (species thinking) inaugura outro tipo de racionalidade, ou melhor dito, episteme da relacionalidade radical: em oposição à racionalidade ocidental tradicional e aos paradigmas representacionais, nos quais se presume uma separação entre nossa experiência do mundo, o mundo em si e o conhecimento do mundo, o pensar como espécie salienta nossas conexões parciais com materialidades humanas e não humanas. juntamente com a contribuição do vitalismo crítico presente nas ontologias orientadas aos objetos (object-oriented ontologies), as feministas materiais afirmam que o conhecimento não constitui um processo separado do mundo da matéria. ecoando isabelle stengers (2005), para conhecer, precisamos estar imersos/as na matéria e no mundo a partir de um contínuo engajamento. o pensar como espécies e o vitalismo crítico apontam para a necessidade de se efetuar um deslocamento político e epistemológico do humano (e da racionalidade eurocêntrica) para o pós-humano, bem como uma mudança de perspectiva ontológica: do entendimento de que existem diferentes perspectivas sobre uma realidade objetiva e universal para o reconhecimento de múltiplos mundos/realidades. o pós-humano permite um escrutínio do significado do humano e de seus limites. quando conceitos tais como agência, ser e "vida" passaram incluir outros não humanos - animais, máquinas e entidades - a atenção ao pós-humano se tornou urgente por muitas razões. primeiro, a figura pós-humana permite perspectivas e posições alternativas que questionam, desestabilizam e descentralizam o ser humano, incluindo categorias binárias modernas. segundo, o foco na figura do pós-humano como uma configuração cultural exige, entre outras práticas críticas, o deslocamento de fronteiras disciplinares tradicionais em favor de abordagens interdisciplinares que envolvam estudos literários e culturais, estudos de mídia, estudos sobre animais e a filosofia orientada aos objetos, entre outros campos de práticas críticas. e, por último, o pós-humano pode ser entendido como um termo amplo que abrange preocupações diferentes, mas muitas vezes sobrepostas, como as do vitalismo crítico, o novo materialismo, a virada ontológica, as teorias da pós-representação, o realismo especulativo e os discursos sobre o antropoceno. diante dessas questões e respondendo à chamada de dipesh chakravarty (2009) para o desenvolvimento de um novo tipo de pensamento – um pensar como espécies –, o objetivo deste projeto é explorar como os feminismos do norte e sul globais poderiam estabelecer conexões parciais para a descolonização onto-epistemológica. argumentarei que nossa entrada em uma nova era geológica, o antropoceno, requer uma mudança de atitude/clima entre as feministas envolvidas no projeto de descolonização dos feminismos e das epistemologias. como chakrabarty (2008) afirma, a crise da mudança climática exige muitas vezes a junção de formações intelectuais que até então estiveram em tensão umas com as outras. por isso defendo que o estabelecimento (ainda que temporário) de conexões parciais, em vez de conexões solidárias, entre os feminismos do norte e sul pode abrir caminhos para a articulação política de onto-epistemologias transnacionais. metodologia o que pretendo elaborar nesta pesquisa sobre os feminismos descoloniais, o antropoceno e as mudanças climáticas é praticar um tipo de leitura difractiva ao tentar conectar três tópicos diferentes visando articular outras onto-epistemologias. a difração é um fenômeno na física quântica – e usada tanto por haraway (1997) como por karen barad (2007) – que descreve metodologicamente "como entidades, agências e eventos distintos não precedem, mas emergem a partir de, e através de suas intra-ações. [...] este movimento paradoxal de diferenciação e emaranhamento simultâneos, de separação e conexão, é contra-intuitivo para a nossa compreensão usual dos objetos ou das identidades com limites discretos e qualidades próprias, independentemente de outras entidades." utilizando-me de uma leitura difractiva e explorando os debates sobre o antropoceno a partir de uma perspectiva do gênero e da raça, proponho: (1) ler as intervenções feministas decolonais nos repertórios políticos e epistemológicos ocidentais através (2) da crítica das feministas materiais (por exemplo, haraway, hekman, alaimo, barad), buscando estabelecer conexões parciais entre esses dois grupos; e (3) ler difractivamente os feminismos descoloniais por meio do perspectivismo ameríndio para explorar as possibilidades de outros conhecimentos e de futuros pós-humanos. diante dos mundos incomensuráveis dos feminismos ocidentais e descoloniais, revelados pela virada ontológica, argumentarei sobre a possibilidade de traçarmos conexões tênues e parciais entre os mesmos a partir da leitura difractiva (van der tuin, 2015) e da prática da tradução como equivocação, desenvolvida por eduardo viveiros de castro (2004).

Índice de Shannon: 3.35213

Índice de Gini: 0.843327

ODS 1 ODS 2 ODS 3 ODS 4 ODS 5 ODS 6 ODS 7 ODS 8 ODS 9 ODS 10 ODS 11 ODS 12 ODS 13 ODS 14 ODS 15 ODS 16
2,88% 4,25% 2,88% 3,72% 5,46% 2,37% 2,90% 2,27% 5,99% 2,57% 3,56% 5,65% 14,81% 3,75% 3,20% 33,74%
ODS Predominates
ODS 16
ODS 1

2,88%

ODS 2

4,25%

ODS 3

2,88%

ODS 4

3,72%

ODS 5

5,46%

ODS 6

2,37%

ODS 7

2,90%

ODS 8

2,27%

ODS 9

5,99%

ODS 10

2,57%

ODS 11

3,56%

ODS 12

5,65%

ODS 13

14,81%

ODS 14

3,75%

ODS 15

3,20%

ODS 16

33,74%