Contextualização e problematização do tema: o d...contextualização e problematização do tema: o direcionamento deste pesquisar ao se tratar de experiência perceptiva alicerça-se, assim, em merleau-ponty. as considerações merleaupontyanas encontraram suporte no experimentalismo das artes visuais do brasil dos anos de 1960 e 1970, mas precisamente nas proposições de hélio oiticica e lygia clark, direcionando, desta maneira, os estudos sobre experiência estética. inevitavelmente, merleau-ponty, hélio oiticica e lygia clark tocam-se, fundem esforços teóricos-conceituais, mostram-se como porto em um processo de pesquisa acadêmica desta dimensão. oiticica e clark construiram percursos que nasceram da pintura e se projetaram no espaço tridimensional. david sperling (2008) coloca a articulação de hélio oiticia e lygia clark como uma superação de uma arte de cunho geométrico-representacional para a proposição de experiências artísticas vivenciais centradas no corpo. oiticia ressalta o que há de vivencial nos processos por meio das experiências de anti-arte ambiental focando possibilidades abertas do comportamento extrapolando as estruturas abertas do objeto, ou seja, é a partir das estruturas abertas que há uma sugestão e espera da ocorrência de acontecimentos diversos – o espaço é um suporte para acontecimentos. sperling (2008, p.118) repara, assim, uma proximidade do termo comportamento utilizado por oiticica com as noções de gesto e estilo utilizados por merleau-ponty em fenomenologia da percepção. para merleau-ponty (1994, p. 206-212) gestos corporais próprios compõem um estilo único do corpo de ser no mundo, criando sua modulação existencial. já hélio oiticica em um de seus escritos referencia merleau-ponty fazendo uma analogia entre noção de comportamento e a totalidade dos sentidos humanos, situando que todas as relações dos sentidos são estabelecidas em um contexto humano, isto é, um corpo de significações e não uma soma de significações apreendidas por canais diversos. aí reside a intersecção entre oiticica e este projeto de pesquisa. ora, se oiticica realiza proposições de experiências artísticas vivenciais centradas no corpo e na ação comportamental como uma força criativa, nada mais claro do que relacionar tais proposições num potencializar experiências de apreensão da arquitetura e da cidade contemporânea. hélio oiticica e seus exercícios do experimental sugerindo espaços de possibilidades abertas de comportamento, convida um olhar a lygia clark. este olhar complementa e intersecciona olhares outros sobre merleau-ponty e o próprio oiticica. lygia clark nos traz o ato vivencial dando na própria experiência perceptiva a transcendência dessa experiência, gerando uma proposição de um campo artístico vivencial ativado pelo ato do participante. é em lygia clark que podemos ter a fruição da obra como um processo de experiência requerendo do participante um colocar-se diante da realidade, para além dos limites do conhecido ou do pré-concebido. tanto em clark quanto em oiticica vemos uma reinauguração dos sentidos, uma participação não programada do público. merleau-ponty, hélio oiticica e lygia clark têm o corpo como protagonista, não um corpo como suporte, mas a descoberta do corpo mesmo. assim, dando continuidade ao projeto de pesquisa desenvolvido entre 2014-2017 (por uma expressão do (in)visível: a experiência perceptiva no processo de projeto arquitetônico), o presente projeto de pesquisa visa explorar melhor a temática da dimensão artística e cultural da arquitetura e da cidade; as experiências de apreensão da arquitetura e da cidade contemporânea; e os processos urbanos contemporâneos. a construção dessa temática de estudo surge como desdobramentos da pesquisa anteriormente desenvolvida, a qual gerou potências de investigação em nossas atividades de ensino-pesquisa-extensão. a partir do processo de investigação realizado entre 2014-2017, foi criado o “grupo quiasma: estudos e pesquisas interdisciplinares em arquitetura, corpo e cidade” o qual se configurou como um grupo de estudos acerca da temática da apreensão da arquitetura e da cidade contemporânea tendo como linha condutora as relações entre arquitetura, corpo e cidade. nesse movimento, três linhas de pesquisa se entrelaçam por meio das produções bibliográficas, artísticas e técnicas do grupo. tais produções misturam-se junto com as atividades desenvolvidas na graduação (ensino, oficinas, debates e palestras) e na pós-graduação, destacando nessa última orientações abordando a experiência da subjetividade na compreensão da cidade contemporânea. destaca-se que o presente projeto de pesquisa se insere no grupo quiasma agregando orientações, estudos e demais produções que se afinem com o marco teórico em questão e contribuam para a consolidação de estudos desenvolvidos sob a integração da arquitetura, do corpo e da cidade nos processos urbanos contemporâneos. então, o problema em torno do qual será conduzida a discussão desta pesquisa pode ser resumido sob a forma da seguinte questão: como projetar, olhar e contemplar a arquitetura e a cidade contemporânea a partir da consciência de quem a vivencia, com o sentimento arquitetônico e urbano em oposição à análise das propriedades e proporções físicas da construção ou de um quadro de referência estilístico? a principal hipótese que responde esta questão e que norteia todo o trabalho é: a partir de experiências vivenciais centradas no corpo e na ação comportamental como uma força criativa acontece um processo de aprendizagem (re)ativando memórias impressas em diferentes corpos as quais auxiliam na apreensão e concepção do espaço arquitetônico e urbano. objetivos: objetivo geral: promover experiências vivenciais centradas no corpo e na ação comportamental como uma força criativa no processo de apreensão e concepção do espaço arquitetônico e urbano. objetivos específicos: (a) cartografar nos processos urbanos contemporâneos as experiências vivenciais centradas no corpo; (b) criar proposições vivenciais centradas no corpo traçando convites a um experienciar a arquitetura e a cidade contemporânea; (c) criar textos por meio de uma escritura experimental descrevendo as experiências vivenciadas nas proposições subsidiando possibilidades de debates acerca da experiência de apreensão da arquitetura e da cidade contemporânea. procedimentos metodológicos: a pesquisa enlaça-se com as proposições de corpo como casa de lygia clark e de espaço-comportamento das possibilidades abertas de hélio oiticica. tanto clark quanto oiticica ao problematizarem a condição sujeito-objeto fundam uma outra relação: a artista-obra-espectador. num comentário das obras desses artistas david sperling (2008) arrisca identificar duas dimensões constitutivas de uma concepção de arquitetura as quais se interdependem. são elas: (1) uma dimensão ontológica, situando a arquitetura como um lugar vivencial transformável, o espaço da existência humana; o espaço estruturado e aberto como único campo possível para a manifestação de uma dimensão política; e (2) uma dimensão para uma estrutura de uma vida coletiva, de transformação da realidade vivencial, a qual passa necessariamente por uma dimensão estética ou perceptiva, de desabitualização das ações e do estar no mundo. com estas duas dimensões em mente, os procedimentos metodológicos estarão pautados em experiências centradas no corpo. assim, a pesquisa se estrutura em dois momentos: (1) na dimensão ontológica: será pesquisado uma noção da existência fundada na experiência estética e perceptiva na apreensão da arquitetura e da cidade contemporânea. a partir de experiências vivenciais centradas no corpo e na ação comportamental como uma força criativa, buscaremos uma descrição fenomenológica da memória corporal dessa experiência. verificaremos, assim, o que ficou no corpo, o que o corpo se lembrou quando a pessoa vivenciou essa experiência. (2) na dimensão do espaço arquitetônico como estrutura coletiva: vamos propor intervenções experimentais em espaços criadas a partir dessas memórias corporais. nesse momento, explicitaremos uma noção de acolhimento e hospitalidade do outro que é diferente. o principal condutor metodológico da pesquisa será a cartografia das experiências vivenciais e das intervenções experimentais. nessa cartografia, trazemos, juntamente com oiticica, uma noção do experimental não para ser entendido como descritivo de um ato a ser julgado posteriormente em termos de sucesso ou fracasso, mas como um ato cujo resultado é desconhecido. esse desconhecimento nos abre para as possibilidades da dimensão estética ou perceptiva, que propõe uma ruptura com o hábito. supomos que a experiência da apreensão da arquitetura e da cidade contemporânea é uma revelação de modo não habitual de estar no mundo. assim, buscamos no corpo que experiencia os espaços da arquitetura e da cidade uma possibilidade de criar o novo, pois a memória precisa do presente para se manter viva.