O objetivo geral desta pesquisa é avaliar como ...o objetivo geral desta pesquisa é avaliar como a formação humana é construída por um complexo jogo de imagens, afecções e visibilidades no pensamento filosófico-educacional de platão. a meta é compreender o papel da ideia e das formas no pensamento platônico através das imagens, porque isso nos permitirá avaliar as afecções e as formas de visibilidade envolvidas nesse processo. para que isso seja atingido dependemos de uma detalhada diferenciação das imagens no "corpus platonicum", já defendida no livro recentemente publicado tendo como recorte a república: "por uma diferenciação das imagens na república de platão" (2017). como objetivo específico, pretendemos expandir as pesquisas já realizadas na república de platão (ao longo dos últimos dez anos no mestrado e no doutorado) para todo o "corpus" investigando qual é a relação entre cada tipo de imagem: ídolo (eíd?lon), ícone (eik?n), simulacro (phántasma) e paradigma (parádeigma), com cada tipo de visão: visão (ópsis), ver (orá?), observar (blép?) e vislumbrar (idein), bem como cada tipo de afecção psíquica: representação (eikasía), crença (pístis), pensamento (diánoia) e entendimento (nó?sis), procurando evidencias lexicais, contextuais e filológicas que nos permitam responder se platão repete em algum momento, de modo diferenciado, o uso de alguma imagem, ligada a um modo de ver e a um modo da alma ser afetada por isso. já sabemos que as imagens possuem um papel importante na concepção platônica de dialética, na sua arte filosófica da reorientação, na sua apresentação da maiêutica, no estudo da matemática, na alfabetização e no desenvolvimento da linguagem. resta compreender também como essas imagens utilizadas em contextos educacionais e pedagógicos se relacionam com as afecções da alma (representação, crença, pensamento e entendimento) e aos modos de visibilidade (visão, ver, observar, vislumbrar). disso, teremos uma visão mais ampla e mais detalhada do papel educacional das imagens no pensamento platônico com um todo. o ponto de partida dessa pesquisa é a república (e os dez anos em que pesquisamos essa obra durante o mestrado e o doutorado) e depois de avaliarmos o papel da imagem em todo o corpus o ponto final de chegada será reelaborar o modo como compreendemos a teoria das ideias em platão, tornando incontornável a elucidação do papel das imagens nessa teoria platônica e revisando (ou abandonando) a famosa divisão de mundo em inteligível e sensível. em pelo menos três contextos distintos da república, as imagens estão ligadas aos movimentos da alma, à medida que ela se dirige para as formas e para as ideias: no contexto ético-educacional, em que ocorre o uso de ícones das formas das virtudes e da imagem da forma da justiça; no contexto ontológico-gnosiológico, em que ocorre o uso (ou não) de ícones na busca da alma pelas ideias, bem como a proliferação de imagens na caverna que é ela mesma um ícone ou um símile, e, no contexto poético-artístico, no livro final, onde são apresentados os efeitos que movimentam a alma a partir da produção de imagens poéticas. nos três contextos, os exemplos pedagógicos e educacionais costuram a discussão da república que tem como foco e objetivo a educação do jovem. para compreender essas imagens usadas nesses contextos é importante levar em consideração os diversos movimentos que a alma faz: ao inteligir, ao pensar, ao acreditar e ao representar as coisas, as ideias e as formas através das imagens ou sem algumas das imagens. por isso, antes de pensar em uma teoria das ideias em platão, será preciso compreender o uso que ele faz das imagens, dos ícones, dos simulacros e dos paradigmas nos diversos contextos em que o movimento da alma aparece ligado às formas e às ideias dos valores: seja do bem, da justiça ou das virtudes, procurando avaliar qual é o tipo de afecção envolvido ali e também qual é o tipo de visão. a parte dessa pesquisa que se dedica à república já foi feita e em breve publicaremos os resultados já obtidos pela editora annablume, sendo importante agora expandir essas questões e indagações para uma análise de todos os diálogos escritos por platão. e é essa a tarefa desse projeto. sendo possível pensar com imagens, ícones, simulacros e paradigmas dos valores, então será possível encontrar similaridades entre os movimentos da alma que apreende as formas das virtudes nos livros iniciais da república e o que apreende a ideia do bem nos livros centrais, a partir do modo como as diferentes imagens são utilizadas, recebidas e produzidas pela alma. nesse sentido, queremos também agora encontrar como as imagens são utilizadas, recebidas e produzidas pela alma no "corpus". é preciso destacar que as passagens que serão analisadas no corpus já estão definidas, pois o critério de escolha e seleção está baseado na utilização de algum dos seguintes conceitos para imagem: ídolo (eíd?lon), ícone (eik?n), simulacro (phántasma) e paradigma (parádeigma). trata-se de um projeto amplo, mas com um recorte previamente bem estabelecido (um estudo das imagens no corpus platônico) e com grande parte do levantamento bibliográfico já feito. a primeira lição que se pode retirar daqui é a necessidade de estarmos sempre atentos ao conceito grego utilizado para imagem. a segunda lição é ver o contexto do conceito, pois mesmo imagens frágeis podem ser usadas filosoficamente ou imagens fortes podem ser criticadas, de modo que não é a imagem em si que é boa ou má, verdadeira ou falsa, correta ou equivocada, mas o uso que é feito dela em determinado contexto. por fim, a terceira lição consiste em tentar relacionar as imagens somente com as mesmas imagens utilizadas em contextos semelhantes, mesmo que isso ocorra em obras distintas, de um modo que seja justificado e bem fundamentado. duas dimensões precisam ser levadas em conta para o sucesso dessa pesquisa. por um lado, o foco na semântica das imagens permitirá estabelecer tanto uma definição do que seja a imagem em si, pensando em uma imagem geral, quanto uma definição de cada uma das imagens em sua especificidade: ídolos, ícones, simulacros e paradigmas, indicando como essas imagens se relacionam com espelhos, com a água, com as sombras e os reflexos. isso deve impedir que diferentes imagens sejam, mesmo em contextos idênticos, apressadamente substituídas entre si. por outro lado, a dimensão pragmática das imagens deverá servir como um aprimoramento da dimensão semântica, pois permitirá encontrar o sentido específico de cada uma das imagens a partir do contexto argumentativo em que elas são utilizadas. isso é crucial para que os comentadores e tradutores não sejam levados a compreender diferentes imagens de uma mesma coisa (como ídolos e ícones de objetos matemáticos ou valores) como se fossem as mesmas imagens e pudessem ser substituídas entre si. a expectativa é que com esses critérios a diferenciação das imagens na república de platão possa ser aplicada no corpus. o resultado de uma união entre os níveis semântico e pragmático das imagens permite encontrar uma coerência maior no uso das diferentes imagens (do eíd?lon, da eik?n, do phántasma e do parádeigma). com isso, dois benefícios surgem para a revisão crítica da interpretação da relação do movimento da alma com as imagens e as formas. o primeiro é impedir que diferentes tipos de movimentos da alma sejam confundidos entre si, em razão de imagens diferentes serem consideradas como sinônimas uma da outra; o segundo é impedir que diferentes imagens sejam trazidas de contextos distintos (no interior e fora da república) para explicar certos movimentos distintos da alma como se fossem as mesmas imagens. do ponto de vista metodológico, é importante destacar como que a história das teorias da interpretação se confunde com a história da interpretação e da tradução do próprio texto platônico. diante disso, essa pesquisa adotará a teoria hermenêutica gadameriana como marco metodológico por ser a melhor síntese (platônica também) dessa história. assim, adotaremos os mesmos critérios hermenêuticos ligados ao problema da aplicação formulado por gadamer em sua obra "verdade e método", no qual não se espera compreender o autor melhor do que ele mesmo se compreendia, mas avalia-lo por uma perspectiva que é inevitavelmente contemporânea. além de ser possível compreender melhor a relação existente entre forma, imagem e alma no corpus platônico, esse estudo também nos permitirá compreender melhor como a teoria das imagens de platão se posiciona frente aos seus contemporâneos (como os sofistas), aos seus antecessores (como heráclito, empédocles e demócrito) e aos seus sucessores (de aristóteles até o helenismo tardio), ainda que isso não constitua nosso objetivo direto de pesquisa deve-se destacar que no centro do embate de platão com parmênides, com os sofistas e com aristóteles as imagens possuem papel de destaque. essa pesquisa também poderá jogar luz no papel das imagens nas teorias filosófico-educacionais contemporâneas.