
Universidade Federal de Santa catarina (UFSC)
Programa de Pós-graduação em Engenharia, Gestão e Mídia do Conhecimento (PPGEGC)
Detalhes do Documento Analisado
Centro: Não Informado
Departamento: Não Informado
Dimensão Institucional: Pesquisa
Dimensão ODS: Institucional
Tipo do Documento: Projeto de Pesquisa
Título: “PERVIVÊNCIAS NA POESIA MODERNA BRASILEIRA III: A POESIA CONTEMPORÂNEA E A TEATRALIDADE DA LINGUAGEM. A POESIA DE TAMARA KAMENSZAIN, SUSANA THÉNON, LU MENEZES, PAULA GLENADEL, CLAUDIA ROQUETTE-PINTO, JOSELY VIANNA BAPTISTA , ANA MARTINS MARQUES E ANGÉLICA FREITAS”
Coordenador
- SUSANA CELIA LEANDRO SCRAMIM
Participante
- SUSANA CELIA LEANDRO SCRAMIM (D)
Conteúdo
A hipótese da pesquisa, de que há um princípio ...a hipótese da pesquisa, de que há um princípio de inversão na equação do projeto moderno ocidental – racional, evolutivo e disjuntivo – , na obra de tamara kamenzain, susana thénon, lu menezes, josely vianna baptista, claudia roquette- pinto, paula glenadel, ana martins marques e angélica freitas, parte da formulação de que o princípio de ação desenvolvido na modernidade, isto é, o da conquista, divisão e dominação, produz uma prática artística que se distancia da relação arte/vida. a esse processo, o pensamento teórico fundador da concepção de arte moderna denominou de autonomia; ele interrompe o fluxo vital característico da prática artística no mundo antigo e, portanto, pré-histórico, e institui uma separação definitiva entre as formas “estetizantes” da vida prosaica e a formalização estética da arte moderna. interessa sobremaneira a esta pesquisa descobrir o quanto esse movimento que inverte a direção de um conceito de modernidade pensado como conquista, ordenamento e administração da vida está posto como problema vital da escrita da poesia de alguns trabalhos poéticos do contemporâneo no brasil e na argentina. observa-se nos trabalhos de escrita selecionados por esse projeto de pesquisa uma busca por um outro tipo de relação textual, na qual estejam pensadas a situação de interdependência entre biologia e humanismo (zoé e bios), entre ética e escrita, entre sentido e suspensão da unidade, entre mimese e mimetismo, entre fala e discurso.
essas questões estão presentes na poesia de glenadel quando a voz feminina e sua articulação social indicam os movimentos e deslocamentos da linguagem poética, questionando a relação mimética da linguagem e problematizando seu caráter de mimetismo, como em, por exemplo, a fábrica do feminino(2008); na poesia de menezes, quando a escrita é pensada como imanência exterior que se situa entre o fora de toda linguagem interior da poesia e a realidade mais imediata, entre elemento concreto e abstração, entre o “reino do real” e o “paralelo/ império da linguagem” (“seios feios”, menezes, 2011, p. 93); na poesia de claudia roquette-pinto, que já em saxífraga(1993), estabelece uma relação implícita entre voz e linguagem, fazendo com que a linguagem de seus poemas permita que a voz (autêntica) da linguagem se manifeste, como nos seguintes versos: “e eu no espinheiro, sem rumo/longe, o chão de pedregulhos/a flor essência saxátil”(roquette-pinto, 1993, p.6). na poesia de josely vianna baptista, a relação entre voz e linguagem, natureza e escrita, se materializa com um foco mais aguçado na preponderância do efeito produzido pela linguagem, quando esta se dispõe a recriar uma segunda natureza para pensar a interdependência entre biologia e humanismo (zoé e bios), como, por exemplo, no poema “hiléias”, do livro corpografia (1992), no qual se articula a imagem “orquídea rara góngora buffonia”(baptista, 1992, p. 39). tais questões se desdobram em outras que se encontram presentes em obras poéticas produzidas por poetas mais jovens que as anteriormente elencadas; questões que advêm de uma posição ética frente ao mundo, nas quais a linguagem se apresenta como a promotora desses desdobramentos. angélica freitas, com seu segundo livro de poemas, um útero é do tamanho de um punho(2013), desdobra de modo inusitado a cena montada no livro de poemas de paula glenadel, a fábrica do feminino(2008): em ambos os livros, há poemas nos quais o pensamento sobre o “feminino” se apresenta como dependente da relação que este estabelece com a linguagem. se nesse livro de glenadel a relação linguagem/pensamento se apresenta de modo igualitário, no livro de freitas, a linguagem ganha função de articuladora maior do jogo estabelecido, criando o que denominarei nesta pesquisa como “teatralidade da linguagem”, que se apresenta como promotora/condutora da “voz” na relação com a escrita, criando um interessante e potente “efeito” “desconstrutor” da “naturalidade” na voz e também da “artificialidade” no discurso. também como parte do desdobramento dessas mesmas questões, feito por uma “geração” mais jovem de poetas, e com uma inflexão sobre a relação entre voz e linguagem, encontra-se o trabalho de ana martins marques. o forte apelo de sua escrita à teatralidade da linguagem como meio de produzir essa zona de indiferenciação entre voz e linguagem faz com que algumas das questões de seus textos sejam retomadas, de modo mais “artificializado”, a partir de lugares importantes do discurso poético de algumas das autoras estudadas nesta pesquisa, a saber, a imagem especular pensada e operada como lugar de criação artística, como se vê, por exemplo, em seu poema “espelho”, do livro a vida submarina (2009), onde se lê: “do outro lado do poema não há nada”(marques, 2009, p.33). a poesia das argentinas susana thénon(1935-1901) e tamara kamenszain(1947) se articula nessa rede de escrituras pela desconfiança que dedicam ao discurso, distanciando-as das escrituras coloquialistas que afirmam o “eu” da experiência. nesse sentido, a poesia de susana thénon e a de tamara kamenszain podem ser lidas como uma tomada de posição no jogo em que o sujeito biográfico se enuncia como poético, desnaturalizando aquilo que se toma como já dado e “naturalizando” o “culturalmente” assimilado, através de uma potente operação “desconstrutora”.
a relação entre voz e linguagem proposta como fundamentos da hipótese deste novo projeto é um desdobramento da relação entre o moderno e o arcaico, presente em algumas obras da poesia modernista brasileira, conforme se observou na pesquisa com a poesia de joão cabral e de murilo mendes. na atual pesquisa, esse elemento “arcaico” presente na criação artística se apresenta como algo que está soterrado e relegado ao inconsciente, pela história humana e pelos processos de racionalização da vida, e é retomado pelo trabalho dessa poesia contemporânea a partir da relação com um elemento não moderno que, no entanto, se “ordena” como “encenação” com o intuito de colocar em evidência os processos “artificiais” e de sentido deslocado e incompleto da máquina discursiva “contemporânea”.
o objetivo deste projeto é refletir sobre a maneira como isso move a poesia dessas poetas contemporâneas, e como elas podem guardar memória dos vestígios do mundo arcaico e lhes dar uma nova existência, operando uma passagem franca entre natureza e cultura, entre cultura de morte e arte/vida, tendo para isso que transformar o par disjuntivo velho/moderno em um problema a ser enfrentado quando age como produtor da impossibilidade de escrever e revisitar o antigo/arcaico, enfrentando sua possibilidade de reescrita.
com este projeto de pesquisa também se desdobra outro objetivo, este de cunho literário histórico: será delineada uma vertente teórico-histórica para se ler a poesia moderna no brasil, além de incluir, nessa vertente, os diálogos e intercâmbios com a poesia argentina. importa pensar a maneira com a qual a modernidade artística latino-americana compreendeu, mediante a feitura de suas obras, o ser moderno como uma equação diferenciada da modalidade europeia, portanto, com o sentido do reconhecimento de que a “teatralidade da linguagem” operada por essa escrita é um passo, compreendido como uma passagem, para um outro modo mais crítico, uma outra forma de vida nessa mesma modernidade.
Índice de Shannon: 3.7551
Índice de Gini: 0.907261
ODS 1 | ODS 2 | ODS 3 | ODS 4 | ODS 5 | ODS 6 | ODS 7 | ODS 8 | ODS 9 | ODS 10 | ODS 11 | ODS 12 | ODS 13 | ODS 14 | ODS 15 | ODS 16 |
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ODS Predominates


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