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Universidade Federal de Santa catarina (UFSC)
Programa de Pós-graduação em Engenharia, Gestão e Mídia do Conhecimento (PPGEGC)
Detalhes do Documento Analisado

Centro: Filosofia e Ciências Humanas

Departamento: Filosofia/FIL

Dimensão Institucional: Pesquisa

Dimensão ODS: Institucional

Tipo do Documento: Projeto de Pesquisa

Título: UTOPIAS E FILOSOFIA DA TECNOLOGIA SOCIAL

Coordenador
  • IVAN FERREIRA DA CUNHA
Participante
  • IVAN FERREIRA DA CUNHA (D)

Conteúdo

A filosofia das ciências sociais de otto neurat...a filosofia das ciências sociais de otto neurath pode ser caracterizada em linhas gerais como uma proposta para que tais ciências lidem com utopias, de modo a obter conhecimento sobre situações sociais e para propor melhorias a tais situações. essa abordagem de neurath foi tema de pesquisas recentes do proponente deste projeto, durante estágios de pós-doutorado. nessas pesquisas, notou-se que a filosofia de neurath relaciona-se a outros pontos de vista, tais como: o positivismo de auguste comte e o pragmatismo de john dewey (cf. cunha, 2014a); o marxismo de karl mannheim e a tradição da literatura utópica, em particular os romances de ficção científica social de h.g. wells (cf. cunha, 2014b). o conceito de utopia apresentado por neurath pode ser comparado aos conceitos de modelo científico e de máquina nomológica que aparecem na obra de nancy cartwright, o que permite que se discutam as ideias de neurath em um contexto mais recente da filosofia da ciência (cf. cunha, 2015b). e essa concepção das ciências sociais voltada à produção de tecnologia para a melhoria de situações sociais pode ser contrastada às críticas ao cientificismo apresentadas na literatura de ficção por aldous huxley e na filosofia da ciência recente por paul feyerabend (cf. cunha, 2015b). as utopias, na visão que construímos a partir da obra de neurath, são como modelos científicos e máquinas nomológicas, nos termos de cartwright. isto é, as utopias são construções abstratas em que as leis e generalizações da ciência funcionam de maneira ideal e que servem, mediante sua operação continuada, para que possamos obter mais regularidades, o que nos ajuda a desenvolver maneiras de intervir em situações concretas nas quais as leis não funcionam de maneira ideal. fica claro que neurath está propondo uma forma de tecnologia social, isto é, uma forma de aplicar as ciências sociais. refletir sobre esse tipo de conhecimento e de ação humana pode contribuir para a construção de um campo de investigação filosófica que lida com problemas típicos das ciências sociais e também com problemas característicos da tecnologia. tal reflexão, no entanto, não pode ser realizada de maneira puramente abstrata, mas apenas por meio da análise de casos, isto é, por meio do estudo de utopias no sentido compreendido por neurath, ou seja, de modelos das ciências e da tecnologia sociais. o presente projeto propõe a investigação de três utopias com o objetivo de refletir sobre a tecnologia social. a primeira dessas utopias está ligada à própria ideia de que as ciências sociais devem lidar com utopias: trata-se da proposta de uma forma de vida característica da ciência. ao propor que as ciências sociais devem conceber e discutir arranjos utópicos com a sociedade, neurath estava também propondo que a sociedade fosse capaz de aceitar e discutir esse tipo de proposta – isto é, que a sociedade se tornasse mais esclarecida cientificamente, superando formas de obscurantismo. além da obra de neurath, essa proposta aparece no manifesto do círculo de viena, escrito em coautoria por neurath, rudolf carnap e hans hahn. o aspecto a ser explorado na primeira etapa deste projeto é que a proposta da ciência como forma de vida também aparece na obra de carnap. para isso, estudaremos as notas de uma série de conferências ministradas por carnap em 1929 na escola de arte, arquitetura e design bauhaus. essas conferências tinham o objetivo de apresentar as ideias do círculo de viena e, em particular, de seu livro der logische aufbau der welt visando a uma aproximação entre os dois grupos em direção à promoção dessa forma de vida científica. a segunda utopia que discutiremos parte da crítica ao cientificismo que vimos na pesquisa realizada recentemente a partir das obras de feyerabend e de aldous huxley. esses autores, cada um em sua área de atuação, alertam para o risco de que, sem um controle democrático, a ciência pode se tornar tão opressora quanto o obscurantismo, quando seus valores de racionalidade, objetividade, eficiência e progresso são impostos às pessoas. para feyerabend, o padrão de racionalidade característico da ciência tem tanto direito de figurar na educação e em outras políticas públicas quanto qualquer outro padrão adotado em maior ou menor escala pela comunidade em questão. como ele explica em against method e, de maneira mais aprofundada, em science in a free society, a educação deveria tornar os cidadãos capazes de julgar esses diferentes padrões e de viver de acordo com os ideais que julgam mais adequados. huxley defendeu ideias parecidas em brave new world revisited, um ensaio não literário que propõe medidas para evitar a situação descrita em sua distopia brave new world. mas a expressão mais interessante dos ideais de huxley está no romance utópico island, em que ele descreve uma sociedade que parece ter encontrado a justa medida entre a ciência, as tradições religiosas e costumes populares. na segunda etapa de nossa pesquisa, buscaremos compor um contraponto à utopia descrita na primeira etapa, isto é, investigaremos propostas de um modelo de sociedade que usa a democracia para se opor ao cientificismo. a terceira utopia que propomos investigar será encontrada na obra de bertrand russell. nas duas primeiras partes de the scientific outlook, russell faz uma exposição do conhecimento científico e também da técnica científica. ele explica como algumas teorias científicas foram consolidadas como conhecimento, comparando-as com a arte, a religião e a metafísica, e apresenta de que maneira a ciência pode intervir no mundo. na terceira parte do livro, russell desenvolve consequências da aplicação da técnica científica à sociedade, chegando a conclusões que descrevem uma distopia: o planejamento científico da sociedade traria alguns benefícios, mas muitas situações indesejáveis. essa discussão de russell antecipou muitas características de brave new world, que foi publicado por huxley no ano seguinte. russell identifica o problema no domínio da relação entre ciência e valores e propõe que a reflexão filosófica seja instituída na educação para originar uma sociedade dotada de valores mais humanistas. a terceira etapa da pesquisa caracterizará as propostas educacionais e sociais de russell como pautadas pela rejeição ao uso irrefletido da técnica científica. buscaremos caracterizar essas três propostas a partir do instrumental obtido na pesquisa desenvolvida recentemente, isto é, em termos de utopias compreendidas como modelos e máquinas nomológicas das ciências sociais. ao realizar essa caracterização, teremos condições de comparar os diferentes pontos de vista a respeito do risco de a tecnologia social produzir consequências indesejáveis. poderemos, dessa forma, apresentar uma maneira de compreender como os problemas que surgem na reflexão filosófica sobre a tecnologia afetam a questão da aplicação das ciências sociais. desde o início do século xx, a ciência desempenha um papel central na sociedade. isso faz com que o estudo da ciência e, em particular, da relação entre a ciência e a sociedade adquiram um caráter central na filosofia contemporânea. dessa forma, a filosofia da ciência apresenta um caminho para a reflexão sobre outras partes da sociedade, como a política e os valores, avançando além das questões epistemológicas e metodológicas tradicionalmente consideradas como típicas da disciplina. tais questões epistemológicas e metodológicas foram as mais centrais na filosofia da ciência até a década de 1970, quando as discussões sobre questões sociais adquiriram mais importância. a pesquisa proposta neste projeto investigará essa relação entre ciência e sociedade a partir do estudo das utopias, obras nas quais aquela relação aparece de maneira central. as utopias são expressões artísticas, características de certa sociedade em certa época, a respeito de questões sociais e políticas, que apontam, ao mesmo tempo, para a crítica das situações vivenciadas e para a projeção de desejos (e medos, no caso das distopias). a tradição utópica é clássica, vem desde o século xvi, mas adquiriu um caráter renovado no século xx ao expressar tais críticas, desejos e medos em relação à ciência. o próprio gênero literário utópico mesclou-se à chamada ficção científica, na forma de ficção científica social. as utopias do século xx serão abordadas em nossa pesquisa a partir da obra de autores participantes do grupo de cientistas e filósofos conhecido como círculo de viena. abordaremos especificamente as obras de otto neurath e rudolf carnap, que são considerados clássicos por terem estabelecido as bases das discussões epistemológicas e metodológicas na filosofia da ciência. e, ao discutir as utopias a partir da obra deles, é possível problematizar e discutir a relação entre ciência e sociedade, trazendo tais autores clássicos da primeira metade do século xx para debates que adquiriram maior importância apenas a partir dos anos 1970.

Índice de Shannon: 3.48315

Índice de Gini: 0.874945

ODS 1 ODS 2 ODS 3 ODS 4 ODS 5 ODS 6 ODS 7 ODS 8 ODS 9 ODS 10 ODS 11 ODS 12 ODS 13 ODS 14 ODS 15 ODS 16
4,95% 3,28% 2,94% 11,05% 6,40% 1,79% 2,87% 6,02% 14,44% 5,85% 3,35% 2,35% 2,09% 3,62% 2,28% 26,72%
ODS Predominates
ODS 16
ODS 1

4,95%

ODS 2

3,28%

ODS 3

2,94%

ODS 4

11,05%

ODS 5

6,40%

ODS 6

1,79%

ODS 7

2,87%

ODS 8

6,02%

ODS 9

14,44%

ODS 10

5,85%

ODS 11

3,35%

ODS 12

2,35%

ODS 13

2,09%

ODS 14

3,62%

ODS 15

2,28%

ODS 16

26,72%