A pesquisa perspectiva pensar as infâncias por diferentes contextos educativos por considerar que em nossa sociedade há diferentes formas e lugares ocupados pelas crianças e, por desse entendimento, objetivou-se ampliar a visão na construção de um estudo interdisciplinar para pensar e pesquisar as infâncias e as crianças em suas relações socioculturais e educação. este estudo está ligado ao conjunto de pesquisas dos grupos de pesquisa: núcleo de estudos vida e cuidado (nuvic) e do núcleo de estudos e pesquisas da educação na pequena infância (nupein). o objetivo central da pesquisa incide em compreender a educação das crianças nas escola de samba, considerando um estudo das relações socioculturais na infância em uma comunidade tradicional no carnaval da cidade de florianópolis/sc. buscou-se, para tanto, identificar a participação das crianças dentro desse contexto, entendendo-o enquanto marca cultural forte na vida cotidiana das comunidades, em localidades específicas em que as crianças vivem. compreende-se que este estudo revela uma possibilidade de olhar as crianças por suas culturas e práticas sociais em contextos locais de educação, o que vai ao encontro do que considera brandão (1985) ao sinalizar a necessidade de conhecer as crianças em si próprias, ou seja, tratá-las em situação. a conceituação teórica parte dos estudos dos estudos da infância, especificamente da sociologia da infância, no diálogo com a antropologia da criança, percorrendo também outras áreas do conhecimento como geografia e filosofia da infância. analisando, ainda, o reconhecimento da condição ativa das crianças na construção das relações que estabelecem com seu mundo por seu próprio ponto de vista. a metodologia utilizada foi a etnografia, entendendo-a em sua importância para construção de saberes locais com e sobre as crianças. abarca-se, pelas práticas culturais e locais no contexto, a etnografia com crianças como metodologia, mas também como epistemologia, que permite a produção de conhecimentos pelos saberes locais, e reconhece as crianças como sujeitos de direitos participantes de convívios coletivos marcados pela geração. a contribuição da etnografia, enquanto metodologia na pesquisa com crianças, propicia entender o ethos estabelecido/criado por ou em cada lugar pelas pessoas que ali estão através de uma interiorização na vida e suas práticas, participando da dinâmica local no tempo em que ocorre. o carnaval acontece durante um período específico no ano e o movimento das escolas de samba para sua preparação também ocorre numa periodicidade que não equivale ao ano todo (geralmente os preparativos iniciam-se após o mês de agosto de cada ano). devido a esse motivo, a temporalidade na pesquisa não é de um tempo linear, e posicionou tratar as entradas e permanências no campo considerando sua itinerância. permaneci durante os quatro anos do doutorado em campo, contemplando as permanências (itinerantes) nesse período, as quais ocorreram sempre a partir do mês de agosto dos anos de 2016, 2017 e 2018 até os carnavais de 2017, 2018 e 2019, e no último ano (após o carnaval de 2019) apesar de já finalizado as observações, escolho não sair do campo permanecendo em contato com os sujeitos. nesse movimento do campo, a pesquisa desenhou-se basicamente em três grandes blocos que dizem respeito ao próprio movimento etnográfico de minhas permanências e itinerâncias: primeiro bloco (2016-2017), por uma globalidade, atentando-se na pesquisa bibliográfica e na primeira entrada em campo para localizar o lugar das crianças nas escolas de samba, que se deu através de uma inserção no carnaval de florianópolis, e por assim, definir o que se constituiu na pesquisa em material secundário nas análises e captar aquele que seria um campo de ordem local. o segundo bloco (2017-2018) aconteceu por um movimento de imersão na comunidade mapeada e escolhida, que foi o morro da caixa pela escola de samba embaixada copa lord (onde se identificou mais crianças participantes a partir do primeiro bloco) com encontros frequentes com as crianças e também adultos que fizeram parte da pesquisa, para a construção do material primário da pesquisa, assim se evidenciou como ocorrem as dinâmicas locais dos projetos mirins da escola e como as crianças inserem-se e participam desse contexto. o terceiro bloco (2018-2019), denominado emersão, diz da devolutiva do material aos que se fizeram interlocutores da pesquisa para aprofundar questões, e dessa forma, voltei ao campo para colocar os registros e notas de campo em relação com as crianças e adultos para aprimorar os dados e constituir os núcleos, partindo dos dados etnográficos. pela interiorização nas práticas das crianças na escola de samba, foi possível perceber que o lugar ocupado nesse contexto define-se pelo modo em que vivem e partilham um ethos comunitário, onde na experiência com/do carnaval, participam das atividades na escola de samba, sobretudo por uma marca geracional, em composição das famílias e ordens de parentescos dentro da comunidade, possuem, portanto, uma relação direta com a entrada das crianças nos projetos mirins. o espaço da escola de samba aparece como um produtor de culturas locais e de educação das crianças em contexto local. a educação das crianças é constituída por elementos e aspectos próprios desse lugar, fundadas pelas relações socioculturais estabelecidas, e desenham-se pela emergência do/no campo através dos núcleos constituídos pelas regularidades encontradas nos dados e constituíram o terceiro bloco da pesquisa. regularidades que incidem diretamente sobre aspectos derivados das relações socioculturais intrínsecas ao contexto da escola de samba e sua comunidade. dessa forma, a educação das crianças na escola de samba está organizada por processos educativos elencados através dos núcleos que derivam de ações de simultaneidade e a posição assumidas pelos sujeitos nas relações educativas, ações de coletividade envolvendo as crianças, as famílias e a comunidade, relações geracionais no compartilhamento dos conhecimentos colocados pela tradição e relações corporais na relação com a cultura e tradição. considero, por estes núcleos, a possibilidade de conceber, partindo das relações socioculturais na infância, uma pedagogia na escola de samba, que se situa pelos conhecimentos locais dos sujeitos que vivem e participam do ethos local, mas também pela cultura e tradição (não estática), fruto de uma história e de uma ancestralidade demarcados por esse lugar e território. a educação das crianças na escola de samba advém do conhecimento, construído pela vivência comunitária dentro da escola de samba, e também percebido pelas crianças por suas relações socioculturais nas quais estão inseridas. nessa ordem as crianças relacionam-se com diferentes dimensões de si e do outro na constituição dessa prática. a pedagogia na escola de samba tratase de um processo de educação em constante movimento, sendo evidenciada e potencializada a partir dos sujeitos-crianças-adultos na relação e dos conhecimentos situados que as crianças constroem na localidade da prática sociocultural. assim sendo, é uma pedagogia produzida no lugar.