O estudo caracteriza-se por uma autoetnografia do trabalho intelectual que ganha expressão no planejamento de uma professora/pesquisadora de educação física, no sentido de elaboração e reelaboração de um objeto de ensino, no caso representado pelo jongo (manifestação expressiva afro-brasileira) – e cuja presença nos currículos escolares se encontra balizada pela lei federal 10.639/03 e pela lei municipal de florianópolis 4.446/94, cidade onde a pesquisa foi desenvolvida. busca compreender as vicissitudes da docência diante da tarefa de apresentar/tematizar às novas gerações práticas corporais da cultura popular, considerando o diagnóstico benjaminiano e arendtiano em torno da perda/fim da tradição. as reflexões de hannah arendt e walter benjamin sobre o diagnóstico de perda/ruptura com a tradição inspira a pensar sobre a responsabilidade de uma professora diante da presença de crianças no mundo e da autoridade do conhecimento. o conceito de história de walter benjamin também inspira reflexões sobre as possibilidades de encontro geracional na escola e, diante do problema da transmissibilidade do passado, enfatiza a possibilidade de elaboração do planejamento mediante a reunião de fragmentos, postulando novos sentidos com o jongo. os instrumentos utilizados para produção de dados foram entrevistas com professores, funcionários e grupos de alunos de duas turmas de 3º ano do ensino fundamental de uma escola da rede municipal de ensino de florianópolis/sc e a elaboração de um diário a partir de observações e da atuação na condição de docente. esse último instrumento ganhou centralidade na pesquisa, uma vez que englobou acontecimentos, sensações, dúvidas e inquietações do processo e condensa distintos movimentos da pesquisa, a saber: a) um encontro/confronto memorialístico da professora/pesquisadora com o jongo em diferentes espaços e tempos; b) um diálogo com hannah arendt e walter benjamin como possibilidade de reflexão sobre a cultura; c) uma (re)aproximação do jongo, buscando os lugares que contam sobre esta prática, a partir de seu trato enquanto objeto de ensino, a partir do estudo da produção acadêmica, da legislação educacional, de imagens e vídeos/documentários; d) do planejamento e da atuação docente em aulas de jongo realizadas em aulas de educação física com duas turmas de 3º ano do ensino fundamental de uma escola municipal de florianópolis/sc. apesar da dificuldade que envolveu uma nova forma de se colocar diante dos conhecimentos na escola, no planejamento proposto é o objeto (jongo) que está no centro, ainda que em relação com outros tempos, espaços, corpos etc. no estudo, imbricam-se uma dimensão subjetiva, marcada por processos de reconstrução identitária que influem sobre a elaboração do objeto, e, também, uma dimensão objetiva, que permite dizer que os aspectos materiais do jongo se constituíram como suporte próprio que possibilitou contar uma história cultural mediante o planejamento. implica dizer que o professor retoma no objeto as possibilidades de interrelação com outras histórias, inscritas na “carne” dos dominados.