Neste trabalho apresenta-se uma etnografia sobre benzeduras realizadas por benzedeiras da ilha do desterro (florianópolis/sc). dando continuidade aos estudos realizados durante o mestrado no programa de pós-graduação em antropologia social da universidade federal de santa catarina (ppgas/ufsc), esta pesquisa revisita as análises feitas a partir da inclusão de novas abordagens sobre o tema e das incursões a campo realizadas para o doutorado. o foco deste estudo volta-se para a ‘esfera de vocalizações’ das benzeduras, abordando-as enquanto gênero voco-sonoro, detendo-se nas suas relações com as formas vocais que as compõem e com pessoas envolvidas nesta prática. por esfera de vocalizações entende-se, a partir de estudos sobre voz de elizabeth travassos (2008), uma abordagem mais abrangente da voz, englobando tanto a produção vocal dos sons quanto as agentes destas vocalizações (reily, 2014). a abordagem das benzeduras enquanto gênero voco-sonoro apresenta um escopo diversificado, que perpassa diferentes áreas do conhecimento. esta análise ancora-se nos pressupostos de bakhtin para os gêneros de fala; na perspectiva de uma análise antropológica das estruturas sonoras, fonológicas e sintático-gramaticais, conforme menezes bastos (2007); nos estudos sobre voz inspirados em elizabeth travassos e na poética das benzeduras, a partir da perspectiva de performance de richard bauman, e das lentes de estudos feministas em performance, que incluem categorias como gênero, idade, etnia em suas abordagens (scott, 1992; mello, 2005; cusick, 2008; sawin, 2012; rosa, 2013). a esfera de vocalizações das benzeduras compreende a fala cotidiana - fala mané, cantos populares e sacros, narrativas ilhôa, ratoeira, entre outras formas de vocalização.