As redes sociais significativas e de suporte social configuradas em torno das mulheres em situação de violência são consideradas estratégias para o enfrentamento desse fenômeno, considerado, mundialmente, como um problema de saúde pública. no conjunto de dispositivos para o enfrentamento da violência, a casa-abrigo oferece acolhimento focado na ruptura do problema e no exercício e reconstrução da cidadania da mulher. o objetivo desta pesquisa foi compreender a experiência de pós-abrigamento e as repercussões das redes sociais significativas no processo de enfrentamento da violência contra a mulher, na perspectiva de profissionais de uma casa-abrigo e de mulheres ex-abrigadas. o posicionamento epistemológico que norteou este estudo esteve pautado nos pressupostos do pensamento sistêmico: complexidade, instabilidade/imprevisibilidade, intersubjetividade. trata-se de uma pesquisa qualitativa, da qual participaram seis mulheres ex-abrigadas e 10 profissionais de uma casa-abrigo. a coleta de dados foi realizada por meio da 1) observação participante, com registro em diário de campo, 2) entrevista semiestruturada com as mulheres ex-abrigadas e com as profissionais do local e 3) do mapa de redes construído na sequência da entrevista com as mulheres. a organização e a análise dos dados foram constituídas com base na grounded theory, seguindo a proposta de análise por codificação: aberta, axial e seletiva. para auxiliar na organização dos dados, utilizou-se o software atlas.ti 7.0. os resultados evidenciaram que, na perspectiva das profissionais, a rede social significativa das mulheres foi considerada pequena ou inexistente no momento do abrigamento, sendo, mais tarde, composta principalmente por familiares e amigos. para as profissionais, durante o processo de abrigamento, há pessoas das redes das mulheres que gostariam de ajudar, mas que não podem proporcionar segurança às mulheres; outras dificultam a saída da casa-abrigo por questões religiosas ou culturais, sugerindo a manutenção da relação com o autor da violência; e outras, por fim, podem auxiliar as mulheres abrigadas, momento em que ocorre o resgate do vínculo por meio das práticas profissionais. no que se refere à perspectiva das mulheres ex-abrigadas, as redes sociais significativas e as profissionais da casa-abrigo auxiliaram no seu processo de saída da casa-abrigo e reconstrução do projeto de vida. estas foram mencionadas como uma das principais estratégias de enfrentamento de problemas cotidianos, junto à religiosidade/espiritualidade. as redes das mulheres ex-abrigadas eram de tamanho médio e grande, com predomínio de membros da família e com maior grau de proximidade afetiva. as funções mais mencionadas foram apoio emocional e guia cognitivo e de conselhos. as mulheres ex-abrigadas mencionaram que a casa-abrigo foi um espaço em que puderam desenvolver a autonomia e autoconfiança. além disso, os estudos e o aperfeiçoamento profissional foram mencionados como o meio para alcançar o crescimento no trabalho. após a passagem pela casa-abrigo, as mulheres reativaram e ressignificaram a qualidade do vínculo relacional com os membros de sua rede. esta tese mostrou que a rede social significativa e de suporte social são recursos que potencializam o empoderamento da mulher em torno das situações de violência e da reconstrução do seu projeto de vida pós-abrigamento. isto fomenta reflexões sobre a importância de se realizar programas de capacitação/ sensibilização às/aos profissionais que trabalham com situações de violência, fornecendo informações técnico-instrumentais sobre as redes sociais significativas como um recurso de intervenção na prática profissional. ademais, sugere-se o desenvolvimento de ações efetivas de acompanhamento de mulheres ex-abrigadas e intervenções voltadas à reconstrução do seu projeto de vida visando à prevenção da violência no contexto familiar.