O endividamento da classe trabalhadora do brasil nos anos 2000 é o principal objetivo de estudo desta tese. a pesquisa utiliza os indicadores do banco central do brasil (bacen) e das principais empresas de tecnologia administradoras de grande banco de dados de notificações de inadimplência, os birôs de crédito. o crescimento do crédito ao consumidor foi um fenômeno conjugado com o crescimento do endividamento da classe trabalhadora nos primeiros 15 anos dos anos 2000. além dessa análise ascendente do fenômeno crédito/endividamento, esta tese buscou levantar, no processo de financeirização e mundialização do capital, na formação social brasileira e nas estratégias do capital para o enfrentamento do fenômeno da inadimplência, algumas determinações que possibilitassem a apreensão desse processo. a partir da análise da financeirização do capital e sua abrangência para outras dimensões da vida social, como nas finanças pessoais dos consumidores, foi possível identificar que tal fenômeno corresponde ao movimento mundial de captura da subjetividade dos trabalhadores pelo capital, assim como a uma maior expropriação financeira dos salários dos trabalhadores, constituindo uma violação ao fundo de consumo destes e uma transformação das mercadorias financeiras em componentes dos meios de subsistência necessários para reprodução da força de trabalho. de acordo com a pesquisa sobre a gênese da financeirização no brasil, um país de capitalismo dependente, foi possível identificar a ascensão das mercadorias financeiras a serem acessadas por frações da classe trabalhadora com salários rebaixados como um processo conjugado com o processo de expropriação financeira, e não uma mera benesse do partido dos trabalhadores (pt), que esteve no governo federal durante a maior parte deste período. a particularidade conjuntural do desenvolvimento socioeconômico de meados da década de 2000 até meados da década de 2010 corresponderia a um período em que as commodities agrícolas e minerais estariam com preço favorável, o que possibilitou grandes lucros para vários setores empresariais e políticas públicas focalizadas no combate à miséria e fomento do consumo. o aumento do crédito ao consumidor, facilitado para todas as frações da classe trabalhadora, possibilitou maior consumo de bens de necessidade básica e bens duráveis. neste processo, as mercadorias financeiras são fundamentais para o aumento dos lucros. para fins de maior entendimento do fenômeno do endividamento, a tese buscou analisar duas estratégias do capital no sentido de controle da inadimplência e do superendividamento. a principal delas, a ideologia da “educação financeira”, trata-se de estratégia orientada por organizações internacionais do capital, como a organização para cooperação do desenvolvimento econômico (ocde), que no brasil institucionalizou a estratégia nacional de educação financeira (enef) com políticas voltadas para a culpabilização dos trabalhadores com dificuldades de pagar suas dívidas, e propaganda das mercadorias financeiras como créditos, carteiras de investimentos, seguros e previdência privada complementar. a outra estratégia, a busca por “prevenção” e “tratamento” do superendividamento, trata-se de medidas judiciais e extrajudiciais que conciliem os credores e os devedores, sem, contudo, perdoar as dívidas e/ou criticar o processo de expropriação financeira. por fim, essa tese buscou analisar estas duas estratégias do capital como novos estranhamentos da atual fase do capitalismo, em que a manipulação é a técnica mais utilizada para garantir a produção e a reprodução do capital. no sentido do endividamento, a manipulação age com procedimentos de culpabilização dos trabalhadores por sua situação e de fomento de padrões de consumo e manejo do crédito e demais mercadorias financeiras.