Neste trabalho descrevemos e interpretamos a história de vida de dois estudantes (um do sexo masculino e outro feminino) negros, africanos, partícipes do programa estudante-convênio de graduação (pec-g) e com histórico de carência de recursos econômicos, para, alicerçados nessas histórias, compreendermos, por um lado, como foi construída a relação que eles estabelecem com a escolaridade e, por outro, para compreendermos de que maneira eles fizeram-se intercambistas bem como as consequências e a forma que eles vivem a tensão perenal que emerge em território brasileiro. para tal empreendimento, realizamos entrevistas face-a-face, durante as quais empregamos a técnica de escuta ativa, envolvemo-nos criticamente, lançamo-nos às infâncias, inquirimos a respeito do grupo primário, secundário e, a todo o momento, procuramos estabelecer contatos mais próximos, marcados pela confiança, responsabilidade e solidariedade. ademais, exploramos os documentos disponíveis em várias páginas da internet – página oficial do mec, mre, entre outras mais –, examinamos as informações que nos foram concedidas pela secretaria de relações internacionais (sinter) da universidade federal de santa catarina (ufsc) e fizemos a triangulação de todo material disponível. com tudo isso, além de constatarmos, juntamente com os estudos que versam a respeito dos africanos vinculados ao pec-g, que os projetos de vida desses estudantes estão fortemente associados aos projetos familiares, passamos a compreender, com mais perfeição, a complexidade das relações que podem existir entre esses intercambistas e os seus grupos familiares. no que concerne especificamente aos nossos pesquisados, compreendemos, por um lado, como se estruturaram as hierarquias de mediações que contribuíram para que eles se fizessem intercambistas e, por outro, que eles experenciaram o intercâmbio acadêmico no brasil à luz da angústia e de um desprazimento decorrente do terrorismo racial brasileiro e do desprezo da áfrica. enfim, percebemos que, malgrado tudo, foi a conjuntura da sala de aula que os consternou, atormentou, desesperou, impactou negativamente os seus rendimentos acadêmicos e, no seu pináculo opressivo, fê-los querer abandonar o curso, conduziu-os à depressão e à tentativa de suicídio.