Nesta tese problematizo antropológica e etnograficamente os regimes de visibilidades e reconhecimento dos modos de vida de mulheres “maduras” que se relacionam afetiva e sexualmente com mulheres. reconhecer a si mesma como uma “mulher madura” pressupõe, em suas palavras, um processo de longa duração por meio do qual o tempo trabalha na criação de si mesmas como sujeitos. são mulheres que têm entre 40 a 62 anos e residem na cidade de joão pessoa, paraíba. a análise focou a materialidade da produção, da circulação, da partilha, da distribuição, dos usos e das contestações dos afetos, das morais e das éticas, mas também dos processos de subjetivação pelos quais elas se tornam sujeitos. no relatos dessas mulheres, o modo como as discussões sobre questões afetivas, morais e éticas relacionadas a regimes de visibilidade e reconhecimento são enquadradas estão fortemente marcadas pelo problema do tempo. elas chamam a atenção, sobretudo, para as múltiplas temporalidades que constituem os seus complexos horizontes temporais. com base nesses horizontes temporais, elas refletem sobre o processo de longa duração que caracteriza as suas relações com a normatividade social, as quais relevam sensibilidades morais, éticas e afetivas partilhadas. assim, elas também se referem ao enquadramento temporal das suas ações éticas, morais e afetivas. não se trata, portanto, de um enquadramento temporal vazio, mas de um enquadramento temporal socialmente constituído pelas práticas diversas por meio das quais essas mulheres passaram a problematizar a relação que elas poderiam ter com o desejo de verdade sobre si e os usos que elas poderiam fazer dele. o que, por conseguinte, exigiu que elas prestassem atenção a si mesmas, que fossem respeitosas consigo mesmas e, sobretudo, que elas intensificassem a relação que têm consigo. ou, mais fundamentalmente, que dessem conta de si mesmas. no entanto, essa relação que elas constituíram com si mesmas não diz respeito somente às suas individualidades, mas também a que elas possuem com os outros. nesse sentido, quando falam da relação que têm com si mesmas e do desejo da verdade sobre si, elas também falam da relação que têm com os outros e falam, sobretudo, das histórias das relações que constituem as suas individualidades. organizei trabalho de campo a partir da minha participação em espaços de sociabilidade e nas atividades desenvolvidas pelo movimento lgbt local, bem como a partir do uso de aplicativos e redes sociais e, sobretudo, a partir da constituição de redes de relações com essas mulheres.