A terra é um sistema complexo de relações entre seres vivos e ambiente físico que está sendo impactado por ações humanas, em um sistema de produção e consumo que, por meio de poluição e degradação dos ecossistemas, provoca desequilíbrios ambientais crescentes. esta situação decorre de uma forma de desenvolvimento predatório que ganhou peso destrutivo, sobretudo, a partir da revolução industrial, quando se aumentou a capacidade de produção/consumo sem ter em conta o aumento de resíduos e rejeitos das sociedades humanas. ora diante de uma capacidade de carga do planeta limitada e dos impactos negativos provocados pela sua ultrapassagem, surgiu um conjunto de ações que busca restaurar, ou garantir, a salubridade ambiental: o saneamento básico. esta prática que, entretanto, se instalou na generalidade das sociedades contemporâneas procura resolver os problemas ambientais gerados pelo volume e pela inadequada destinação de resíduos gerados pela atividade humana (i.e., resíduos sólidos e águas residuais). no entanto, o crescimento exponencial de rejeitos a que se assistiu nas últimas décadas, aconselhou o aprimoramento de técnicas e meios de atuação mais eficazes (i.e., recolha seletiva, aterros controlados, reaproveitamento de matérias primas), em simultâneo com instrumentos de engajamento que impliquem as populações (afinal a fonte do problema) na construção e melhoramento de soluções (i.e., governança do saneamento). a presente tese tem, por isso, como objetivo geral compreender como a governança do saneamento se constitui, a partir de situações de ação desenvolvidas em dois contextos distintos que, ainda assim, reúnem algumas características comuns: cascais (portugal) e florianópolis (sc, brasil). a pesquisa foi conduzida a partir de uma abordagem qualitativa, com a realização de dois estudos de caso, a partir de um quadro teórico ampliado às questões da governança, da sustentabilidade e do saneamento. foi possível constatar que cada município possui especificidades em relação a forma como se instituem ações para garantir a salubridade ambiental. mesmo sendo um problema comum nas sociedades contemporâneas - e, por isso, partilhado pelas duas cidades -, cada uma evidenciou formas constitutivas de ação bem diferentes, que se associavam ao estágio em que se encontravam as respetivas garantias de salubridade ambiental. com efeito, se constatou que as particularidades locais moldavam as situações de ação, condicionando os interesses dos atores sociais através de elementos tão diferentes como: identidades, regras, imagens, localidades e comunidades, instrumentos, comunicação e informação, custos e benefícios, ações. em suma, a pesquisa verificou que os interesses dos atores sociais eram, nos dois casos, moldados pelos papéis que lhes são atribuídos, de acordo com normas e crenças percebidas nos diferentes espaços de interação, considerando os ganhos e perdas proporcionados pelos canais de conhecimento. a partir de diferentes situações de ação, relacionadas com a destinação dos resíduos em cascais e florianópolis, foi, assim, possível compreender que a governança do saneamento é um sistema social complexo, pela diversidade de elementos e interesses que configuram um processo dinâmico e contínuo de mutações em torno do seu objeto. nesse sentido, se propõe um entendimento da governança do saneamento enquanto mecanismo flexível adaptado à diversidade dinâmica das especificidades locais, que não prescinde da participação social no contexto de processos de governança mobilizadores e inclusivos para alcançar o "bem-comum", traduzido, nestes dois casos, na poupança de recursos naturais, na qualidade ambiental, na saúde pública e na qualidade de vida.