No final século xx, a educação em nível superior no brasil teve um aumento expressivo no número de vagas para estudantes. mas foi principalmente no começo do século xxi que a educação teve progresso significativo em termos de democratização do acesso ao ensino superior. por meio das políticas de ações afirmativas, possibilitou-se que públicos historicamente excluídos do ensino superior pudessem enfim estudar nas mesmas condições que outros estudantes. dentre os cursos de ensino superior, nenhum é mais antigo, difícil de ingressar e tradicionalmente elitizado no brasil quanto é o curso de graduação em medicina. o curso de graduação em medicina é considerado um curso de alta demanda, que exige dedicação integral por parte dos estudantes, e a literatura aponta que os estudantes desse curso podem ter problemas de saúde mental decorrentes das exigências acadêmicas. de acordo com algumas pesquisas feitas com estudantes cotistas oriundos de camadas populares, esse público encontra-se mais vulnerável no contexto do ensino superior, por dificuldade financeira e pela sua trajetória no ciclo de educação básica. a presente pesquisa teve como objetivo investigar como são construídas as carreiras de estudantes cotistas de medicina oriundos de camadas populares. essa pesquisa se caracteriza como uma pesquisa exploratória, numa abordagem qualitativa, com recorte transversal e delineamento do tipo estudos de caso múltiplos. foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os participantes e todas as entrevistas foram gravadas e transcritas. após a transcrição, foram categorizadas as unidades de registro a fim orientar os estudos de caso e a análise temática do conteúdo. os estudos de caso foram discutidos a partir da abordagem psicossocial de carreira, baseada na teoria socioconstrucionista. os temas emergentes a partir da categorização foram discutidos em etapa posterior à análise dos estudos de caso, nessa mesma dissertação. os resultados encontrados permitem afirmar que a construção da escolha pela medicina por parte desses estudantes ocorre ao longo da vida, e é mediada tanto pelos pais como por outras pessoas significativas, como professores, donos de clínicas e clientes da área comercial. os estudantes apontaram que aspectos financeiros e a “falta de base” são as principais barreiras enfrentadas por estudantes cotistas para ingressar e se manter no curso de medicina. foram relatados casos de sofrimento acentuado no curso durante as entrevistas. foi possível identificar também que para os estudantes entrevistados o direito à educação é como uma “herança” oferecida pelos seus pais, sendo um privilégio para muitos desses estudantes estudar medicina na ufsc.