A visita domiciliar (vd) é um dos principais instrumentos de intervenção do sistema único de assistência social no brasil (suas), constituindo-se em um desafio para a prática profissional, visto envolver situações de violação de direitos em contextos de vulnerabilidade social. a recente implantação da política nacional de assistência social, que trouxe mudanças epistêmicas com reflexos diretos na prática profissional, mais a elevada inserção dos psicólogos no contexto da proteção social especial de média complexidade (pse), tensionou a utilização desse instrumento de intervenção entre as dimensões de cuidado e de fiscalização familiar. o objetivo dessa pesquisa foi compreender a utilização da visita domiciliar enquanto instrumento de intervenção no contexto da política nacional de assistência social, na perspectiva dos profissionais e de famílias atendidas, nos centros de referência especializados de assistência social. o posicionamento epistemológico do presente estudo foi o pensamento sistêmico, pautado nos pressupostos da complexidade, instabilidade e intersubjetividade e o pensamento complexo. sustentada na abordagem qualitativa, a coleta de dados teve como base a teoria fundamentada nos dados na perspectiva construtivista, cuja análise e coleta dos dados eram concomitantes. iniciou-se pela observação participante, com registro em diário de campo, que possibilitou conhecer os contextos interinstitucional, comunitário e familiar relacionados à vd. após foram entrevistadas doze pessoas visitadas pela equipe do serviço de proteção e atendimento especializado a famílias e indivíduos (paefi). na sequência, realizaram-se três grupos focais com dezessete profissionais dos serviços de proteção especial. os dados advindos dos diferentes instrumentos foram organizados e analisados com auxílio do software atlas.ti 8.4. configuraram-se três grandes dimensões, com suas respectivas categorias, subcategorias e elementos de análise. na primeira dimensão apresentou-se o artigo da revisão integrativa de literatura. o resultado desse estudo, que teve por objetivo “analisar a utilização da visita domiciliar pelos profissionais da psicologia e do serviço social na assistência psicossocial”, evidenciou a ausência de pesquisas no contexto brasileiro sobre a vd no campo da proteção social. a dimensão 2 está organizada em dois artigos decorrentes da observação de campo, cujos objetivos foram “analisar o processo da realização da visita domiciliar à luz dos fluxos institucionais e profissionais no contexto do suas” e “analisar o processo de realização da visita domiciliar como instrumento de intervenção utilizado na prática das equipes do suas”. os resultados dos dois estudos evidenciaram que a vd era decorrente de uma trama de fluxos interinstitucionais que perpassavam a forma de realização da visita no contexto da proteção social, principalmente na construção de vínculos familiares e comunitários. foi possível identificar que a vd é uma prática cotidiana das equipes dos paefis, que exigia delas planejamento e preparação para imprevisibilidades e desafios comunitários. a terceira dimensão sustentou-se na produção do quarto e quinto artigos. os resultados do quarto artigo, que tinha como objetivo “compreender a experiência da visita domiciliar na perspectiva das famílias acompanhadas pelo paefi”, apontaram que a vd foi compreendida pelas famílias como forma de apoiá-la e fiscalizá-la, o que gerava a construção de vínculos ambivalentes com a equipe. o quinto artigo, que visou “compreender os significados e dilemas éticos atribuídos à visita domiciliar como recurso de intervenção na perspectiva dos profissionais do paefi”, constatou que para os profissionais, a vd é um instrumento necessário para o acompanhamento psicossocial e que gera neles um desgaste físico e emocional, haja vista a ausência de formação e preparação para sua realização e vivência cotidiana de dilemas éticos institucionais, comunitários e familiares. os achados dessa tese mostraram que a vd se constitui como um instrumento apreendido no aprender-fazendo dos profissionais à luz de seus contextos e que ela sofre atravessamentos decisivos do sistema interinstitucional que determinam a sua realização, deixando em evidencia a crise epistêmica no campo da proteção social. com base nos resultados obtidos, foram apresentadas a teoria emergente, as recomendações institucionais e práticas para os profissionais envolvidos no contexto da pse, bem como as sugestões de pesquisas sobre essa temática em diferentes regiões brasileiras.