As categorias da fraternidade e da justiça continuam a suscitar importantes debates no âmbito do pensamento contemporâneo. a proposta de uma justiça concreta e realizável, desde a concepção assentada em princípios, valores e regras, passando por uma dimensão substancial, de cunho teórico e/ou prático, válidos para os estados nacionais ou instituições e organismos internacionais, segue inatingida e até certo ponto neglicenciada. de outro modo, o tema da fraternidade, pautado nas contingências e nas circunstâncias culturais da sociedade, encontra no direito, um parâmetro, um motor e uma bússola, a favor das conquistas e construções das relações jurídicas contemporâneas do século xxi, de onde decorre a importância de seu conceito e a correspondência com a categoria da justiça. mais, nos dias atuais, relacionar a fraternidade à justiça, aparenta estar na “contracorrente”, pois o discurso comum tem sido a discórdia e até mesmo o discurso do ódio, de onde decorre a existência de uma intensa agenda a ser cumprida visando dar sustentação às ações de fraternidade. levando em conta esse cenário, como problema de pesquisa propõe-se: é possível afirmar que, de acordo com a matriz disciplinar de chiara lubich, o conceito de fraternidade confere contributo à teoria e prática da justiça? o conceito de fraternidade, presente no pensamento de chiara lubich, é portador de especiais significados e de forte carga de unidade, e, bem por isso, detém condições de conferir prestimosa contribuição à díade da teoria e prática da justiça, como também, sob a dimensão estrutural, procedimental e metodológica, oferecer resposta ao problema de pesquisa proposto. com efeito, teoria e prática de uma ordem, ideia ou modelo de justiça requerem uma dinâmica de coexistência no sistema de justiça, cujo destaque, credita-se ao conceito de fraternidade introduzido por chiara lubich, a presença de uma base indispensável, voltada à unidade, principalmente no que diz respeito à fórmula contida na reciprocidade, na relacionalidade, na cooperatividade, na responsabilidade e na dialogicidade (comunicabilidade), cujo objetivo vislumbra-se afeito a uma justa e útil contribuição da fraternidade à teoria e prática da justiça, representativa desde uma base histórica, principiológica e até mesmo uma firme teoria que está se assentando à compor o paradigma doutrinário, tão necessário aos saberes e fazeres da ciência e do reconhecimento e aplicação no sistema de justiça. a tese encontra-se estruturada em cinco principais seções, correspondentes aos objetivos específicos da pesquisa científica, e apresenta como metodologias, a abordagem dedutiva, o procedimento monográfico e a técnica de pesquisa bibliográfica, os quais encontram-se distribuídos em cinco tópicos, de forma a dar conta dos desdobramentos dos temas. inicialmente, apresenta-se o deslocamento dos paradigmas postos – tanto em face da justiça, quanto da fraternidade, e o balanço dessa síntese, a começar pela justiça e sua trajetória, fontes, dimensões e expressões na ação da história humana. depois, a gênese da fraternidade, percorrendo os tempos imemoriais e as matrizes originárias; na sequência, expor a fraternidade na perspectiva de chiara lubich, tendo como pressupostos a tradição, a história, a memória, o diálogo e o pensamento; após, examinar a justiça na emergência de sua própria especificidade, e, em tal contexto, traduzir sua teoria e prática; expor o conceito de fraternidade em chiara lubich como elemento de formação, reconhecimento e de contributo à teoria e prática da justiça, e, frente a tais disposições, averiguar a transitividade da justiça para a “nova” justiça ancorada na fraternidade. a hipótese levantada encontra-se verificada no último capítulo e o resultado da pesquisa centra-se na seguinte consideração: o reconhecimento e a compreensão do conceito de fraternidade com base em chiara lubich e, tomados seus pressupostos em face da justiça, dessa dupla temática advém o compromisso dos marcos da fraternidade e, também, a crítica quanto aos obstáculos da ordem jurídica, a qual anseia por atitudes profundas, referentes aos graus de justiça, especialmente porque, a união da categoria da fraternidade com a própria justiça, em contato com o sistema de justiça, estão a corroborar a qualidade dessa proposição – pelo pacto da fraternidade, o qual, redeclarado à luz da justiça – em um dar-se conta, como anúncio, denúncia e crítica, fornecem testemunho e prática, pertencente à metodologia da escola da fraternidade, vetor hermenêutico, que precisa inspirar-se nos novos tempos trazidos pela fraternidade, a reencantar a ciência e o humano – sujeitos do direito – pelo ceticismo ou pela admiração, sobretudo, pela díade da teoria e da prática da justiça. é por essa “trajetória” que se pode edificar o reconhecimento da entrega inteligente de direitos na perspectiva de um estado constituinte de fraternidade, por meio de um sistema de inteligência fraterna de direitos.