Esta tese tem como objeto os clubes agrícolas escolares de santa catarina entre os anos 1934 e 1949 e os aborda tanto com relação aos repertórios neles identificados quanto pela sua participação na produção de um repertório sobre o rural. os clubes agrícolas eram associações presentes nas escolas primárias, sob a supervisão do departamento de educação e diretamente vinculadas, num primeiro momento, à sociedade dos amigos de alberto torres e, num segundo, ao ministério da agricultura. tais instituições objetivavam que seus sócios valorizassem a terra, a pátria, o trabalho (especialmente o agrícola) e reconhecessem o modo de vida rural como eminentemente brasileiro. os clubes estavam ligados ainda à proposta de uma escola ativa, com a finalidade de educar integralmente cada indivíduo acentuando os fins sociais da educação. ademais, estavam inscritos em iniciativas que buscavam a modernização do meio rural e de seus habitantes, o que passava por mudanças de hábitos de higiene, saúde e pelo contato com outras formas de sociabilidade e realização do trabalho no campo, elementos que eram sintetizados na e pela sua articulação com a educação escolar. assim, ao mesmo tempo em que se constituem num objeto diretamente relacionado à escola e às práticas educativas, os clubes agrícolas mantêm, por outro lado, relação com o pensamento educacional e social, isto é, com os modos de pensar e interpretar o brasil. os documentos tomados como fontes da pesquisa são: periódicos (revista e jornais), fotografias, relatórios dos clubes elaborados pelas escolas primárias, além de normativas e relatórios produzidos pelos agentes do estado. nas análises, utiliza-se o conceito de repertório, apropriado das produções de angela alonso (2012; 2014; 2015) e charles tilly (20092; 2010), que contribui para se pensar nas formas de ação, nas interpretações e nos usos dos agentes sociais frente ao que é posto – ou, nas performances dos agentes sobre os scripts/roteiros socialmente compartilhados. na mirada dos usos e especificidades dos clubes agrícolas, recorre-se à abordagem da micro- história, notadamente em carlo ginzburg (1989; 2010), giovanni levi (2011; 2020) e jacques revel (1998; 2010), mobilizando alguns de seus princípios, tais como a variação de escalas, a experimentação, a busca pelas particularidades na realidade estudada, a atenção especial à empiria. as análises apontam modos de ser e fazer diversos e plurais nos clubes agrícolas escolares estudados, embora tenham sido verificadas também uma série de regularidades. evidenciam a presença de repertórios diversos nessas associações – escolanovista, ruralista, associativista, nacionalista – as quais, visando à formação integral dos alunos e alunas das escolas primárias, faziam o duplo movimento de ler a realidade e ajudar a produzi-la por meio de suas práticas, lições, slogans, imagens, linguagens e representações, cotidianamente tecidas. as ações dos clubes apontam ainda para uma espécie de racionalidade pedagógica que incidiu sobre a escola e seus sujeitos (a professora, o professor, a criança, a família); uma organização racional de tempos, espaços, rotinas a serem seguidas.