Alternativas adjuvantes para diminuir a absorção do ferro podem contribuir para o tratamento da hemocromatose hereditária (hh) e consequentemente, auxiliar para reduzir o risco a outras comorbidades. o presente estudo investigou o efeito da infusão de folhas de erva-mate (ilex paraguariensis a. st. hil.) na absorção do ferro não heme em pacientes com hh para o genótipo hfe. foram também avaliados o impacto do tempo de infusão e do volume de água na obtenção de uma infusão de folhas de erva-mate com alto conteúdo fenólico e de atividade quelante de ferro e a estabilidade dessas propriedades, no tempo de armazenamento e temperatura (imediatamente e após 24 h a 8 e 25 ¿c). um estudo randomizado, controlado e cruzado de três braços foi conduzido em pacientes com hh hfe, com idade entre 29-69 anos e em terapia de manutenção. os quatorze pacientes com hh hfe ingeriram uma refeição padronizada contendo 11,4 mg de ferro e 200 ml de cada bebida: água (controle), infusão de folhas de erva-mate ou suspensão de silybum marianum (diluída em 200 ml de água). as bebidas foram oferecidas aleatoriamente e separadas por um período de 7 dias de washout. as amostras de sangue foram coletadas em jejum e após 1, 2, 3 e 4 horas do consumo da refeição, para a medida do ferro sérico. no estudo in vitro, a maior concentração de fenóis totais (18,1 mg/ml) e de atividade quelante de ferro (~ 100 %), foram observados para o tempo de infusão de 10 min., utilizando 30 g folhas/300 ml água. o armazenamento a 8 ou 25 ¿c por 24 h diminuiu a concentração de fenólicos totais e dos ácidos di-cafeoilquínicos em 23,5% e 25,5%, respectivamente (p < 0,05), sem afetar a atividade quelante de ferro, devido a uma saturação do efeito quelante com uma concentração fenólica de 3,34 mg/ml. no ensaio clínico, quando os participantes ingeriram a refeição com a infusão de folhas de erva-mate, ocorreu uma significativa redução da absorção de ferro, de acordo com todos os parâmetros derivados das curvas de ferro sérico, área sob a curva (auc0–4h) 173,3 ± 44,7 ¿mol.min–1.l–1, pico máximo de absorção do ferro (¿max ) 1,3 ± 0,3 ¿mol/l e recuperação do ferro no pico máximo (%femax ) 2,4 ± 0,5% em comparação às demais bebidas, no caso, a água (auc0–4h de 1449,4 ± 241,5 ¿mol.min–1.l–1, ¿max de 9,1 ± 1,4 ¿mol /l e %femax de 16,2 ± 2,6%) e a suspensão de silybum marianum (auc0–4h de 2195,2 ± 399,9 ¿mol.min–1.l–1, ¿max de 12,5 ± 2,2 ¿mol/l e %femax de 21,7 ± 3,6%); p < 0,001 para todos os parâmetros derivados das curvas de ferro sérico (média ± erro padrão da média). nenhuma diferença significativa foi encontrada entre a água e a suspensão de silybum marianum; p > 0,05. o estudo in vitro mostrou que o tempo e o volume de água, normalmente utilizados no preparo de infusões, afeta a extração de compostos fenólicos e da atividade quelante de ferro. a atividade quelante apresentou um efeito saturante a uma baixa quantidade de fenóis totais e, consequentemente, a infusão foi altamente estável sob refrigeração e a temperatura ambiente para a ação quelante. o ensaio clínico mostrou um significativo efeito inibitório da infusão de folhas de ervamate (100 mg/ml) sobre a absorção do ferro, com uma redução de 88% da auc, comparado ao controle (água). tanto os resultados in vitro quanto in vivo mostraram uma infusão com importante potencial como quelante natural de ferro. a ingestão da infusão de folhas de erva-mate inibiu significativamente a absorção do ferro em pacientes com hh hfe e, portanto, deve ser considerada como um possível adjuvante para o controle da sobrecarga de ferro no organismo.