A reportagem tem sido apontada por vários autores e em diferentes contextos como a “essência” da atividade jornalística. no entanto, a maior parte dos estudos sobre jornalismo foca, em vez dela, apenas na produção da notícia, restringindo e empobrecendo a compreensão do jornalismo como atividade intelectual. esta pesquisa apresenta como objetivo central avançar na explicitação do método da reportagem em profundidade, aquela que transgride os limites, condicionamentos e restrições impostos pelas rotinas e padrões dominantes na indústria jornalística. para tanto, busca: a) identificar modos de compreensão da reportagem na literatura sobre jornalismo; b) contextualizar historicamente o desenvolvimento da reportagem; c) conhecer como repórteres especiais percebem e interpretam o que realizam no campo; d) analisar e sistematizar as visões dos repórteres especiais sobre os saberes de reconhecimento, de procedimento e de narração acionados por eles na produção da reportagem em profundidade. o referencial teórico parte da concepção do jornalismo como forma social de conhecimento (park, 1940; genro filho, 1987; meditsch, 1992), dos conceitos de conhecimentos tácito e explícito (takeuchi; nonaka, 2008) e das competências jornalísticas (ericson; baranek; chan, 1987). depoimentos coletados em pesquisa documental e entrevistas em profundidade com 12 repórteres especiais com atuação no brasil servem como objeto empírico. o corpus se baseia nas respostas de adriana carranca, andrea dip, armando antenore, caco barcellos, chico felitti, daniela arbex, fabiana moraes, fábio bispo, josé hamilton ribeiro, mauri könig, natália viana e renan antunes de oliveira. como guia para os procedimentos metodológicos, a análise de conteúdo tem como critérios os três saberes jornalísticos: de reconhecimento, de procedimento e de narração. os resultados revelam dificuldades dos profissionais em explicitar suas metodologias de trabalho, com a tendência de reduzi-la a insights pessoais e percepções subjetivas e simplificadas como “faro jornalístico” ou “fazeres naturais”. porém, a análise permite identificar semelhanças e regularidades no processo de produção, subjacentes aos fazeres individuais, demonstrando a existência de um método de reportagem profissional institucionalizado, embora pouco percebido e valorizado nos relatos, que costumam enfatizar apenas a idiossincrasia de seus autores.