A crise política estabelecida no brasil ao longo da atual década é frequentemente vinculada a uma "crise de representação". afinal de contas, a quem representa a classe política brasileira? buscando contribuir com o debate, este trabalho analisa a democracia representativa brasileira através da concepção de representação política como congruência entre o resultado do processo legislativo e as preferências de eleitores e grupos de pressão sobre determinadas políticas públicas. para isso, selecionei iniciativas legislativas que tramitaram no congresso nacional entre 2011 e 2018 e que exprimissem forte divergência em relação aos interesses dos atores, especialmente os grupos de pressão representativos de "trabalhadores" e "industriais", em diversas áreas temáticas. foram coletados dados de surveys, manifestações dos grupos de pressão e votações na câmara dos deputados e no senado federal. com base nessas informações, foi possível aferir o grau de congruência entre a atuação parlamentar, de um lado, e, as preferências do eleitorado e as dos grupos de pressão, de outro. as análises sobre as decisões dos parlamentares na câmara dos deputados e no senado federal, além de incidirem sobre os resultados agregados dessas ações, também foram desagregadas por grupos ideológicos (esquerda, centro e direita) e partidos políticos, de forma individualizada. os resultados apontam para uma maior congruência entre as deliberações do parlamento e as preferências do empresariado industrial e, em menor grau as do eleitorado majoritário. do ponto de vista ideológico, há uma clara convergência entre o centro e a direita nas votações em plenário, que são também correspondentes aos interesses da "indústria", enquanto a esquerda apresenta um claro alinhamento às preferências da cut. quanto aos partidos políticos, psdb e pt atuam no parlamento de forma muito representativa da dicotomia capital/trabalho, representada na esfera da sociedade civil por cni e fiesp versus cut.