Este trabalho buscou captar as percepções de sujeitos expostos à situação de ameaça de perda de terras e de condições de reprodução social devido à construção da usina hidrelétrica de energia barra grande, no rio pelotas, bacia do rio uruguai, divisa entre os estados de santa catarina e rio grande do sul. diante disso, estes sujeitos envolveram-se em um conjunto de ações políticas que visibilizaram de forma conflituosa esta ameaça e apontaram para a necessidade de serem implementadas medidas compensatórias. jovens à época dos eventos, são hoje investigados para compreendermos como organizam seus projetos de vida passados alguns anos dos conflitos, como estes projetos se articularam com a própria condição juvenil no meio rural e com os formatos de desenvolvimento existentes na região em que estão inseridos os reassentamentos conquistados - onde hoje se reside e se cultiva. busca-se pensar estes sujeitos a partir de uma perspectiva que privilegie sua ação e sua narrativa, de tal forma que contribuam para refletir criticamente sobre um modelo de desenvolvimento sócio-econômico pautado na apropriação violenta de recursos naturais e na desapropriação violenta de populações que, por sua própria existência, o obstaculizam. modelo cuja suposta inevitabilidade tornou-se a justificação para sua repetição (“infernal”, diria walter benjamin) e para todas as medidas de exceção (giorgio agamben) realizadas em seu nome e que, exatamente por isso, se lhe mostram “irracionalmente razoáveis”. a intenção, portanto, foi situar projetos e trajetórias de jovens atingidos e atualmente reassentados diante de uma modalidade do progresso capitalista há décadas enraizada na realidade brasileira: a hidreletricidade enquanto acumulação por espoliação.